Nelson Bortolin
Foram mais de 10 anos de negociações com o governo, forçadas pelos ambientalistas, que, com o apoio do Ministério Público, bateram à porta da Justiça para tentar preservar o máximo da exuberante Mata Atlântica existente na região. Finalmente chegou-se ao acordo possível e, assim, poderão ser iniciadas as obras de duplicação da Rodovia Régis Bittencourt (São Paulo-Curitiba) na Serra do Cafezal, no município de Miracatu, a pouco mais de 100 quilômetros da capital paulista. O trecho tem 19 quilômetros (do km 344 ao 363). A licença que faltava foi anunciada pelo Ibama em 28 de dezembro.
Para quem usa a Régis Bittencourt, já não era sem tempo. Aquele é o único trecho da estrada que ainda não tem pista dupla. O afunilamento do tráfego tem sido motivo de grandes transtornos e prejuízos materiais e humanos.
Primeiro pela demora, pois o trânsito ali é lento e muitas vezes os motoristas perdem horas parados quando ocorre um acidente. Some-se o prejuízo dos furtos e roubos: quadrilhas aproveitam a parada dos veículos, furtam produtos nos baús dos caminhões e ameaçam ocupantes de carros exigindo dinheiro e objetos de valor. O prejuízo mais grave está nos frequentes acidentes – mais de um por dia: em 2012, foram registrados 410, com 13 mortes.
Por tudo isso, a duplicação na Serra do Cafezal é bem-vinda. A concessionária Autopista Régis Bittencourt pretende começar a obra em abril, ao custo estimado em R$ 700 milhões.
É serviço para três a quatro anos. O projeto prevê uma pista com três faixas no sentido de São Paulo (subida) e duas faixas no sentido de Curitiba. Serão construídas 24 pontes e viadutos, num total de 5,66 km, e 1,8 km em quatro túneis.
Tantas obras de arte acabaram entrando no projeto depois da pressão dos ambientalistas, que queriam evitar perda de vegetação numa região rica em nascentes. Mesmo assim, o desmatamento deve atingir 114 hectares.
A Carga Pesada descobriu que foi uma mulher, Léa Corrêa Pinto, a principal defensora da mata e negociadora do traçado que a Régis Bittencourt terá na Serra do Cafezal com a duplicação. Em reportagem desta edição, ela conta o que estava em jogo nessa disputa.