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Claudio Adamuccio: “Eu faria tudo igual”

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Presidente do G10 considera que o modelo adotado pelo grupo é atual e diz que o maior desafio do negócio é lidar com pessoas

“Eu faria tudo igual.” Essa foi a resposta imediata que o presidente do G10, Claudio Adamuccio, deu à Revista Carga Pesada quando questionado sobre como seria se tivesse de recomeçar o negócio hoje. Logo depois, ele fez uma ressalva: “Talvez eu colocasse outras empresas no lugar das que saíram”.

Quando o grupo teve início, no ano 2000, era formado por 10 transportadoras. Hoje são cinco.

O empresário faz questão de destacar a palavra “talvez”. “As pessoas são difíceis. Quando penso que a entrada de novos sócios poderia tornar mais complicadas as nossas reuniões, que são superagradáveis, acho que fizemos a escolha certa de não substituir quem saiu.”

Na entrevista, Adamuccio contou que o maior desafio do negócio foi — e continua sendo — lidar com pessoas. Ele defende a necessidade de inteligência emocional para conduzir equipes e acredita que o modelo de associação adotado pelo G10 continua viável. Já o formato de cooperativa, ele descarta.

Veja os principais trechos da entrevista.

Carga Pesada – Qual foi o maior desafio desses 25 anos?

Claudio Adamuccio – O maior desafio sempre foram as pessoas. O ser humano tem perfis diferentes e isso não muda com o tempo. Há 25 anos já era assim e continuará sendo daqui a 25. Sempre teremos gente extrovertida, introspectiva, desafiadora. A tecnologia pode até influenciar o comportamento, mas não altera a essência. O homem office mostrou isso: para o extrovertido, que precisa de contato, não funciona; para o introspectivo, foi a descoberta de um ambiente ideal.

Adoto um princípio: todos têm direito de expor ideias, mas, depois da decisão, não há mais espaço para discussão. Sempre busquei consensos amplos. Se nós estamos em 10 e a votação dá 5 a 5, tira o assunto de pauta. Uma semana depois, se der 6 a 4, é sinal de que ainda não soubemos vender a ideia. Só aceito decidir com mais de 70% de apoio.

Carga Pesada – A Inteligência Artificial vai ter impacto no desafio relacionado a pessoas que você citou?

Claudio Adamuccio – Muitos acham que a Inteligência Artificial vai dominar o mundo, outros acreditam que não terá impacto. Eu não sou cético: ela já entrou na nossa vida há tempos. A disputa hoje é por liderança, e está restrita a dez empresas: cinco nos Estados Unidos — Meta, Google, Tesla, OpenAI e Apple, com apoio da Microsoft — e cinco na China — Tencent, Huawei, Alibaba, Baidu e DeepSeek.

E há duas coisas que a IA nunca terá: sentimento e imaginação. Isso pode ser força ou fraqueza, mas é um diferencial humano inatingível. Sempre haverá alguém para ativar ou desativar a tecnologia. Por isso, acredito que a IA é uma realidade e vai assumir tarefas repetitivas e pouco relevantes, que ninguém quer desempenhar.

Carga Pesada – E qual o impacto da Inteligência Artificial especificamente em relação aos motoristas de caminhão?

Claudio Adamuccio – Infelizmente, ainda não vejo o caminhão autônomo como realidade. Um automóvel, de pouco mais de uma tonelada, já funciona em áreas urbanas, respeitando limites e sinalização, muitas vezes melhor que um motorista. Mas um caminhão de 50 a 70 toneladas é outra história. Acredito que em dez anos não veremos direção autônoma em rodovias, apenas em áreas confinadas como portos e minas.

Em 2005, quando conversei pela primeira vez com a Dilene (diretora da Carga Pesada), ela me pediu uma sugestão de pauta e eu dei: a questão da falta de motorista. A revista fez uma reportagem grande sobre o assunto. De lá para cá o problema só piora. A idade média dos motoristas subiu de 34 para 41 anos e continua aumentando. Essa escassez já é um impeditivo para o crescimento do setor e deve persistir até, um dia, chegar o caminhão autônomo.

Carga Pesada – Contratar mulheres não seria uma solução?

Claudio Adamuccio – Eu contrato mulheres há mais de 10 anos. Mas o fato é que não passam de 3 a 4% da minha força de trabalho. Não há candidatas.

Carga Pesada – Se o G10 fosse fundado hoje, o modelo de associação adotado ainda seria viável? E o que acha das cooperativas?

Claudio Adamuccio – Acredito que, se começássemos hoje, funcionaria do mesmo jeito que funcionou lá atrás, sem mais ou menos dificuldade. Eu faria tudo igual. Talvez eu colocasse outras empresas no lugar das que saíram. Mas as pessoas são difíceis.

Quando penso que a entrada de novos sócios poderia tornar mais difíceis as nossas reuniões, que são superagradáveis, acho que fizemos a escolha certa de não substituir quem saiu. Nunca gostei do modelo de cooperativa, onde o voto do pequeno vale o mesmo do grande, gerando decisões que nem sempre servem a todos.

Carga Pesada – Como o G10 trabalha a questão da sucessão nas empresas que compõem o grupo?

Claudio Adamuccio – Ontem morreu o cartunista Jaguar, aos 93 anos, e vi que ele trabalhou até a semana passada. Isso mostra que ainda tenho tempo: com 65 anos, pretendo ficar ao menos mais cinco como executivo principal. Depois quero montar um conselho e migrar para ele, mas mantendo presença semanal por mais cinco anos. Assim, talvez em 8 a 10 anos eu reduza minha atuação, dependendo da saúde.

Já iniciei a sucessão na Transpanorama (empresa minha e do meu irmão): contratei consultoria e começamos a mentoria há 12 meses. Tenho duas filhas: uma já trabalha na empresa e a outra, médica em São Paulo, comecei a trazer para se preparar para o conselho. Meu irmão tem dois filhos que já atuam no negócio.

Mostrei aos demais sócios o que estou fazendo, mas cabe a cada um decidir. Alguns já se organizaram.

Carga Pesada – Vocês mudaram a natureza jurídica do G10 para S.A. Por quê?

Claudio Adamuccio – Mudamos para S.A. de capital fechado. Na prática, não altera muito, pois já fazíamos auditoria pelas Big Four, exigência dos bancos, e sempre publicamos balanços. Não temos segredos, então divulgar números não é problema. A mudança traz ganhos de governança e prepara a empresa para o futuro. Se um dia optarmos por um IPO, é importante já termos histórico como S.A., com alto nível de compliance, auditorias, governança e relatórios de ESG.

Carga Pesada – O que você diria para quem está começando?

Cláudio Adamuccio – Projete o futuro tentando não errar e sempre use inteligência emocional. Hoje valorizo isso mais do que qualquer doutorado. Um cientista que não sabe se relacionar pode terminar sozinho e esquecido. Cito Nikola Tesla, que trabalhou com Thomas Edison e desenvolveu a corrente alternada, fundamental para transportar energia a longas distâncias. Também foi pioneiro em invenções que deram origem ao rádio e, depois, aos celulares. Teve centenas de patentes, mas morreu pobre e abandonado em um hotel. Isso mostra que genialidade sem equilíbrio emocional não leva a lugar algum. Inteligência emocional é essencial para a vida e para os negócios.

Clique aqui e leia mais sobre a história do G10.

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