É o que aponta relatório da Volvo feito na Europa. Lá como cá…
Luciano Alves Pereira
Pela primeira vez, a Volvo tornou público o resultado da pesquisa sobre acidentes que a empresa realiza desde 1969, na Europa. Deu uma conclusão bem “brasileira” (ou mundial): 90% dos acidentes de caminhões relacionam-se com o fator humano; em geral, motoristas envolvidos em sinistros estão desatentos ou avaliando mal a velocidade.
Na Europa, caminhões pesados se envolvem em 17% do total de acidentes, e em 7% existem feridos. A maior causa de ferimentos são saídas de pista, sem a presença de outro veículo. Acidentes com consequências mais graves envolvem carros e caminhões.
O número de acidentes fatais na Europa vem caindo desde 1990. Principais razões: veículos mais seguros, adequação das vias e direção defensiva. Mais vidas poderiam ser salvas, no entanto 95% dos motoristas profissionais que morreram na estrada estavam sem cinto de segurança.
O relatório da Volvo nos leva a pensar nos estradeiros brasileiros, que gostam tanto de culpar as más condições das estradas por acidentes resultantes de desatenção e excesso de velocidade. Ao mesmo tempo também se pode perguntar: dá para esperar uma atitude melhor dos motoristas com tantas estradas destroçadas?
Para a Volvo, dá. Para a mineira Viação Sandra, também. Trata-se de uma empresa de ônibus intermunicipais que ligam a região de Conselheiro Lafaiete a Belo Horizonte, através da antiquada (e péssima) BR-040. São cerca de 100 quilômetros de desafios diários.
A frota da Sandra passa 200 vezes por dia naquele trecho. Pois há mais de 10 anos que não ocorre um único acidente com morte com ônibus da empresa. Nem por culpa de terceiros! De 2000 para cá, seus ônibus se envolveram em apenas um acidente por ano, em média. A direção defensiva reina absoluta entre os 70 motoristas.
Para atingir esses números, eis os segredos: respeito ao descanso, treinamento constante, bons salários e a possibilidade de evoluir de trocador para motorista. A rotatividade é mínima. Tem gente lá com 36 anos de casa. Quem tem oito anos é novato…
Baixa velocidade é a “conduta-pilar” da operação para quem deseja evitar acidentes, comenta com o repórter um gerente de frota de uma empresa de caminhões.
Para ele, que prefere ficar anônimo, é mais difícil controlar os atos de um motorista de caminhão do que de um motorista de ônibus. “No ônibus, o passageiro é um fiscal, que obriga o motorista a rejeitar a fadiga e manter a atenção”, diz. Essas são as duas principais causas de acidentes do relatório da Volvo. Se bem que, reconhece o entrevistado, “transportar vidas faz diferença”. Tem que fazer…