Todas as lideranças de caminhoneiros, como se viu no texto anterior, fazem questão de ressaltar que, ao receber por carta-frete, os caminhoneiros são explorados pelos postos, seja pagando mais pelo combustível, seja por terem que comprar produtos de que não necessitam – caso contrário, o posto não troca a carta por dinheiro.
É algo fácil de se constatar, conversando com motoristas. O autônomo Dirley Bernardi, 40 anos, conhece todos os sistemas de pagamento: tem empresas que o pagam com cheque, tem as que dão carta-frete e as que fazem o pagamento pelo cartão de uma administradora. “Com cheque, nunca paguei a mais pelo combustível. O posto cobra o preço à vista, me devolve uma parte em dinheiro e outra com outro cheque”, afirma.
Já na carta-frete ou no cartão, o preço é maior, segundo ele. Num posto onde abastece em Cambé (PR), Dirley diz que a diferença pode ser de R$ 1,84 (o litro do diesel) para R$ 2,05. O que significa cerca de R$ 1.000 por mês – quase a prestação da carreta (R$ 1.300).
É importante lembrar, aproveitando o exemplo dado por Dirley, que, pelo Código de Defesa do Consumidor, é proibido os postos cobrarem um preço diferente do preço à vista de um produto só porque o pagamento é feito através de cartão eletrônico. Se o posto fez um contrato com a administradora do cartão, ele (posto) é que deve arcar com o custo da facilidade que está oferecendo ao cliente, e não transferi-lo ao cliente. “O posto que quiser cobrar mais pelo diesel pago com cartão deve ser imediatamente denunciado pelo caminhoneiro na delegacia mais próxima do Procon”, diz o assessor jurídico da Fenacam, Alziro da Mota Santos Filho.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Mato Grosso (Sindipetróleo), Aldo Locatelli, nega que, em seu Estado, os postos cobrem mais pelo combustível para trocar a carta-frete. Mas admite que será difícil para os estabelecimentos suportarem os custos da venda de combustível por cartão.
“Temos uma margem de lucro muito pequena e esses 2,5%, 3,5% que as administradoras de cartões cobram inviabilizam o negócio”, afirma. “Ganhamos R$ 0,17 por litro. Coloca aí 3,5% (do cartão), dá quase R$ 0,06. Gastamos uns R$ 0,10 com nossas despesas operacionais. Vamos ganhar um centavo? Ninguém vai conseguir trabalhar com isso, os postos quebram”, afirma. De acordo com ele, existem postos que cobram até R$ 0,10 pelo litro de diesel para quem já usa cartão.
Fala, caminhoneiro
“Se todos nós formos seguir o exemplo (de quem sonega), o que será do nosso País? Só Jesus Cristo para controlar.” Mauro Lacerda, 64 anos,de Londrina (PR)