Entre Nós – edição 188 – out/nov/2016
Não podemos viver uns sem os outros, não é? Por isso procuramos fazer amigos, chega a idade em que procuramos alguém com quem nos casar, e aqueles que procuram a estrada para passar a sua vida também estão procurando um modo comunitário de viver.
Um palácio é bonito, um arranha-céu é grande, uma catedral é imponente, mas uma estrada é viva.
A estrada sugere aventura, sugere novidade, sugere paisagens que não se repetem – e quantos de nós se deixam levar por essas vontades desde pequenos, e vão realizá-las depois que crescem?
Por isso, das construções do homem, talvez seja a estrada a que mais lhe fale ao coração, lhe sugira com aproximação maior o transitório, o inquieto, o rápido da vida.
A estrada não é feita só de asfalto, placas, radares, perigos, saudades, prisão a horários, esperas inúteis. É, principalmente, feita de pessoas.
A estrada é o rio sem água – quem desce nele são os viventes.
Pessoas muito especiais, que emprestam à estrada a sua característica mais humana, fazendo dela um cenário de solidariedade e distribuição de afeto.
A estrada é o longe e o perto, a presença da distância, o convite à caminhada, à aventura, à fuga.
É possível ser feliz na estrada, como revelam, em nossas páginas, dezenas de leitores, em cada uma de nossas edições. São eles que inspiram escritores e poetas a revelar o lado humano da estrada, que preenche a vida dos que entendem os seus encantos.
A estrada leva e traz, a estrada anda, vive e participa também.
O título e os trechos em destaque, no texto acima, são de Rachel de Queiroz (1910-2003), escritora cearense que soube expressar, de maneira muito especial, o valor da estrada e dos que nela vivem.