A pandemia atrapalhou, mas a aposta da Mercedes está chegando
Luciano Alves Pereira
Lançado como linha Actros, há mais de 20 anos no mercado europeu, o Novo Actros virou pièce de résistance no enfrentamento da concorrência local com outras marcas de pesados. No Brasil, nunca teria havido uma tão bem preparada rampa de lançamento. Para desagrado geral, suas datas coincidiram com o anti-evento da pandemia do vírus Corona, e as apresentações foram suspensas.
Atrasos de produção, de despachos, de comercialização e de entregas foi o que não faltou. Somente em agosto, parte do país pôde conhecer os produtos. “Ele quebrou um paradigma na indústria automobilística”, no dizer de seus altos executivos. Antecipando-se a boa parte da rede, coube à Cardiesel, de Belo Horizonte, entregar a primeira unidade. Trata-se do 2648 6×2, na cor cobre e ‘carregado até a boca’ de in-cab technologies, focadas em segurança e conforto. Ocorreu na segunda quinzena de agosto, mas o primeiro contato do frotista com o Novo Actros aconteceu no Chile, ainda no ano passado. É o que conta Jônatas Ribeiro, consultor de vendas da Casa, mais conhecido como Maninho, “Ele (o comprador) passeava por lá, viu o bruto, gostou e já deixou a compra apalavrada”, lembra.
L-1935 – O Novo Actros compõe a frota de 48 unidades de Volvos, Scanias e da própria Mercedes. O seu tiro mais frequente serve para ligar o Sudeste ao Nordeste na puxada de sucata de metais. Maninho explicou que o 2548 pega o motor OM 460 LA, desenvolvendo potência de 476 cv a 1.800 rpm e torque máximo de 2.300 Nm à baixa rotação de 1.100 rpm, com turbo sem geometria variável em 13 litros de cilindrada.
O consultor ganhou experiência no mercado de usados e se diz aficionado por caminhões. Sua paixão começou na adolescência já que seu pai tinha um MB L-1113, e participou da construção de Brasília (décadas de 50/60). Pelo seu modo de ver, a chegada da novidade passará a constar “da lista dos melhores lançamentos da montadora”. No ato, lembrou-se do descontinuado L-1935, “quando a Mercedes resolveu incrementar de fato sua força no segmento de cavalos-mecânicos”.
OBRIGATÓRIO – Em relação ao recém-chegado, ele destaca a adoção de câmeras em substituição aos retrovisores “como elemento de diferenciação no aumento de segurança no dirigir”. A primeira unidade entregue pela Cardiesel, vai puxar uma carreta Randon e ‘carregar’ diversos recursos de assistência ao motorista. Um segundo destaque é o ABA 5 (Assistente Ativo de Frenagem geração 5). De forma bem resumida, trata-se de dispositivo dotado de uma tela, além de uma câmara na frente, instalada no para-brisas. Esta articula-se com radar embaixo, no para-choque e sensores nas laterais. A câmera reconhece pessoas, movimentos e o radar identifica volumes à frente. Por exemplo um carro.
Quando acionado, o sistema monitora em 100% do tempo o que ocorrer à frente e dos lados externos. Se o condutor pular de faixa, recebe um alerta. Se, igualmente, não perceber a manobra, o ABA dispara outro alerta no painel. Caso não ocorra ação do condutor, o próprio caminhão freia até parar. Assim, evita colisões traseiras, praga cada vez mais comum no desarrumado
trânsito estradal brasileiro. Na Alemanha, tornou-se obrigatório nos emplacamento mais recentes, visando reduzir engavetamentos.
Aniversário da Cardiesel
A entrega do primeiro Novo Actros coincidiu com os 60 anos da Cardiesel. Na realidade, “o chegar tão longe” compreendeu três fases. A de Patrocínio e Patos de Minas (Patos Diesel), no interior do Estado; a de Belo Horizonte (Cardiesel) e a do atual controlador, o Grupo VDL (a partir de 2005). Este tem várias concessionárias Mercedes, além de outros negócios. Ao todo são seis décadas: “resultado de muito trabalho, competência e fidelidade dos nossos clientes”, como diz o registro publicitário da empresa, destacando a data.
A fase de BH tem significado único (para mim), por ter estado presente à festa de inauguração da Cardiesel, em 25 de janeiro de 1974. Os dois sócios do então grupo Cardoso, Silveira & Cia. Ltda., Elmiro Cardoso e João Messias Marques fizeram o corte simbólico da fita, junto com Gunther Janssen, diretor adjunto da Mercedes-Benz. Na data, a região contava com a Minas Diesel, a Minasmáquinas e dúvidas se a praça comportava mais uma Casa.
No entanto, os números eram favoráveis. A marca detinha cerca de 50% do mercado de caminhões acima de 5 toneladas, somados a chassis de ônibus, monoblocos, além de motores diesel destinados a várias aplicações. Logo viria o ano de 1975, quando a fábrica inaugurara sua tão necessária expansão. Através dela se previa a produção de 65 mil veículos anuais, além de 100 mil motores diesel. Tal previsão se referia a 1980. Até então, a capacidade das instalações da São Bernardo era de 35 mil unidades por ano. Infelizmente, os planos do então diretor adjunto, Werner Jessen, não se concretizaram. O primeiro choque do petróleo atropelou a vitalidade econômica do país e logo na virada da década (1981), a mesma Mercedes demitiu cerca de 11 mil funcionários, afetando drasticamente um quadro prévio de 15 mil.