Segundo o jornalista, consultor em segurança do trânsito e idealizador do Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PVST), J. Pedro Corrêa, além de uma solução cara para os caminhoneiros, não existe comprovação científica da eficiência do exame. “As entidades médicas que tenho consultado não o avalizam e mesmo a Polícia Rodoviária Federal não atribui a ele a importância apregoada pela empresa que montou fábrica e produz os resultados no Brasil”, declara. Ele se refere à Quest Labet, inaugurada em fevereiro deste ano em Santana de Parnaíba (SP).
J. Pedro ressalta que PRF atribui a queda do número de acidentes a um trabalho mais consistente que ela mesma faz nas estradas. “Como não dispomos de estatísticas mais confiáveis, é difícil atribuir a uma causa específica a melhoria dos resultados.” Ele diz, no entanto, que “algum efeito positivo” no controle de acidentes o exame deve ter. E reconhece a importância de o exame toxicológico ter “enquadrado” motoristas que se utilizam de drogas.
De acordo com o consultor, os especialistas em trânsito aguardam novos desdobramentos que venham a comprovar a validade dos exames. “Como diz a velha máxima: ‘enquanto o mar briga com as pedras quem sai perdendo é o caranguejo’, no caso os profissionais do volante”, critica.
Questionado se o exame de saliva seria mais confiável, J. Pedro afirma, ressalvando que não é especialista no assunto: “Creio que qualquer medida que possa ser comprovadamente efetiva será mais que bem-vinda. É preciso que tenha eficácia. O que não se pode é ficar fazendo experiência às custas do bolso dos caminhoneiros”, declara.
Ele ressalta ainda que o problema das drogas é muito grave e que ninguém – governo, setor de transportes, sociedade – pode ignorá-lo. “Ocorre que se trata de problema de extrema complexidade por envolver inúmeras variantes que, em alguns casos, fogem do controle dos principais protagonistas.”
Já o coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, é entusiasta do exame. E não se conforma com as críticas feitas pelas pessoas contrárias, já que tem certeza de que o exame é o principal responsável pela queda do número de acidentes. “O único fato que pode explicar parcialmente uma queda tão expressiva dos acidentes de caminhão e ônibus é o exame toxicológico”, alega.
Ele critica os Detrans: “Não conseguem controlar as fraudes de venda de CNHs e não teriam competência para fiscalizar os laboratórios”.
Rizzotto chama de “balela” o fato de algumas entidades, alegando custos menores, defenderem o teste de saliva em vez do exame de fio de cabelo. “Cada teste de saliva representa um custo entre R$ 140 e R$ 200, dependendo do dólar. Isso sem contar toda operação de fiscalização envolvida, agentes de trânsito, combustível, guinchos, interferência no fluxo viário, etc.”, diz o coordenador.
Além dos Detrans, o coordenador critica os representantes do setor de transporte, que se posicionam contra o exame. Ele acusa a NTC&Logística e o Sindicato das Empresas de Transportes de São Paulo (Setcesp) de terem lutado para reduzir os direitos dos caminhoneiros quando houve a revogação da lei do descanso, a 12.619. O excesso de horas na direção, diz Rizzotto, é a principal justificativa para os condutores usarem drogas. “Quem cria as condições de exploração que levam muitos motoristas a usarem drogas para suportar a jornada é contra o exame toxicológico”, ressalta.
Para ele, esta seria uma “coerência do mal”. “Hoje, as empresas de transporte reclamam do roubo de carga, mas esquecem que os motoristas que usam drogas estão próximos do mundo do crime”, afirma. São esses motoristas que, segundo o coordenador, alimentam as quadrilhas de informações sobre o transporte de carga.
Rizzotto também acusa as transportadoras de não atuarem para evitar que seus motoristas usem drogas. “Falar em programas de prevenção de álcool e drogas nas empresas é brincadeira. São raros e louváveis os casos, mas a grande maioria somente cria programas por força de lei.”