Como ultrapassar com segurança uma fila de sete bitrens em uma pista simples? Este é o desafio constante dos motoristas que trafegam pela Cuiabá–Santarém (BR-163). Nas margens das estradas da região de Lucas do Rio Verde, no Norte do Mato Grosso, as lavouras de milho da safrinha, prestes a serem colhidas, anunciam o agravamento do problema do tráfego com o aumento considerável no movimento de caminhões.
Os transportadores reconhecem que, com a administração do governador Blairo Maggi, homem ligado à agricultura, os investimentos em rodovias aumentaram, mas ainda resta muito a ser feito, já que o Estado ainda tem 26 mil quilômetros de estradas sem nenhum tipo de pavimento.
“A BR-163 é uma rodovia federal. Eu faço um desafio ao ministro dos Transportes ou a um diretor do DNIT: que assuma a boleia do caminhão e dirija por nossas estradas para ver como é a vida do caminhoneiro”, reclama Alcione Dassoler, da Dassoler Transportes, que comercializa e transporta grãos.
Alcione, como boa parte dos moradores da cidade, saiu há nove anos com a família do Rio Grande do Sul, da cidade de São Valentim, perto de Erechim, e se instalou em Lucas do Rio Verde. “Desbravamos tudo isso, hoje é uma região rica, um novo Eldorado americano, mas não temos as estradas que merecemos. Teria que ser feito ao menos um alargamento da pista e terceira faixa nos trechos mais perigosos,” reivindica.
“Para cobrir estes 350 quilômetros até Cuiabá já cheguei a levar 10 horas”, conta Vilson Kirst, outro gaúcho radicado no Norte de Mato Grosso. Ele era autônomo, em 1985, conheceu a região quando veio trazer uma mudança e resolveu ficar. “Vi o povo, as águas, o clima bom, não só aqueles invernos”, lembra. Hoje tem 12 bitrens, um posto e lidera a distribuição de combustível nas 600 fazendas que estima existirem do município de Lucas do Rio Verde pelo sistema TRR – Transporte Revendedor Retalhista.
Com muito trabalho mais a força econômica da região, Vilson conseguiu ajudar toda sua família e cresceu. Mas, do alto da sua experiência estradeira, diz que as estradas ainda são a principal dificuldade não só dos transportadores mas de toda a população. “São muito perigosas, uma verdadeira espingarda engatilhada”, conclui.