A abertura da BR-101, nos anos 50, fez com que Iconha, aos poucos, virasse a Capital do Caminhão do Espírito Santo. Hoje, a cidade tem um caminhão para cada três habitantes
Guto Rocha
A construção de rodovias costuma levar desenvolvimento às localidades. Foi o que aconteceu em Iconha, no Espírito Santo. Encravado na região serrana, o município capixaba é cortado pela BR-101, a translitorânea que cruza o País de Norte a Sul. A abertura da rodovia federal, há mais de 50 anos, fez com que a economia de Iconha, que se baseava na produção agrícola (especialmente de banana), se voltasse para o transporte de cargas.
Hoje, a cidade é a Capital do Caminhão do Espírito Santo. Tem quatro mil caminhões emplacados e 12 mil habitantes, segundo o diretor da Astrac (Associação Sul Litorânea dos Transportadores de Cargas), José de Anchieta Paganini: proporção de um para três.
O diretor lembra que o transporte rodoviário de cargas ganhou importância em Iconha por causa de doenças na cultura da banana. “Os primeiros transportadores tinham um ou dois caminhões, outros perceberam que o negócio poderia ser bom e entraram no ramo. Um foi puxando o outro”, comenta.
Paganini tem uma pequena transportadora, com três carretas. A Astrac reúne 363 empresas de transporte de cargas da região (só de Iconha, são mais de 100), além de 250 autônomos.
Através da associação, as empresas fazem compras conjuntas de pneus e outros produtos, contratam seguros e planos de saúde, por exemplo. “Quando alguém tem o caminhão roubado, rateamos. Tudo é dividido entre todos”, comenta o diretor.
O crescimento do Porto de Vitória também foi determinante para a consolidação do setor em Iconha. “Houve uma grande demanda por transporte e, como já tínhamos tradição, foi fácil para a cidade se destacar e crescer”, diz Paganini. Hoje, os principais produtos transportados são matéria-prima para a indústria siderúrgica, cimento e materiais de construção.
FALTA GENTE – O prefeito de Iconha, Delso Mongin (PP), diz que a força do transporte aparece também no fato de que a cidade tem cinco agências bancárias – um número grande, em vista da população. Só em IPVA, os caminhões vão garantir R$ 2 milhões para os cofres da prefeitura neste ano.
Segundo Mongin, todo o mundo no município tem alguma ligação com o transporte. “Tenho três sobrinhos que são caminhoneiros”, afirma. Ele estima que o setor gere mais de dois mil empregos diretos. “E já falta gente. Estamos importando muitos motoristas”, diz.
De acordo com o prefeito, os moradores convivem sem problemas com os brutos, apesar das ruas estreitas. O problema não chega a ser grave “porque a grande maioria dos caminhões não fica muito tempo na cidade”.Mesmo assim, está prevista a introdução de mão única na avenida principal, “para melhorar o fluxo”, comenta.
A BR-101 passa dentro de Iconha. Com a privatização da rodovia, isso deverá mudar – será feito um contorno. Mas a população é contra. Fizeram até abaixo-assinado. O empresário Vansionir Paganini, sócio da Jolivan, a maior transportadora do município, diz que a reação é causada pelo temor de que a mudança no trajeto da BR afete a economia da cidade.
FESTA – A reunião de tantos caminhões numa cidade pequena acabou dando origem a um grande evento: a Festa do Caminhoneiro de Iconha. É em julho e este ano está na 13ª edição. A promoção é da Associação dos Caminhoneiros do Sul do Espírito Santo (Ascames).
Segundo o presidente da Ascames, Valquimar Checon Biela, o Vaval, a festa é realizada no galpão de 1,5 mil metros quadrados da própria associação. Tem shows, comida, distrações e… negócios – fornecedores de insumos para o setor de transporte de cargas aparecem para fazer suas ofertas. O movimento é significativo: “No ano passado, a festa teve um faturamento de R$ 15 milhões”, informa Vaval.