Numa pesquisa com caminhoneiros, a psicóloga Nereide Tolentino ouviu de um motorista que ele evitava deixar o caminhão na frente de casa para que seus filhos não tivessem contato com o veículo e desejassem seguir a mesma profissão. Esse pensamento – de não querer que os filhos sigam sua profissão – passa pela cabeça de 86% dos 1.512 caminhoneiros ouvidos na pesquisa coordenada pela Nereide e apresentada no Seminário Volvo de Tecnologias de Segurança e Comportamento Seguro, realizado em setembro, em São Paulo.
A pesquisa foi realizada na Casa do Cliente das empresas Randon, em Caxias do Sul, ou seja, não se trata de uma consulta nacional. De qualquer forma, revela outros dados preocupantes: se tivessem chance, 55% dos caminhoneiros deixariam a profissão – a maioria gostaria de ser motorista de ônibus. “Diante dessas opiniões e desejos, a pergunta que fica é: teremos motoristas profissionais amanhã?”, diz Nereide, que é consultora do Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PVST). “Considerando que a continuidade de pai para filho está em declínio, que a profissão oferece riscos e baixa qualidade de vida, e que a característica de liberdade e aventura não existe mais, já que hoje tudo é controlado, corremos o risco de ter um apagão de mão de obra especializada”, afirma.
Do total de entrevistados, 70% admitiram que tinham o sonho de ser caminhoneiros desde a infância e 53% que iniciaram na profissão por influência da família. O que mais atraiu para a profissão foi a oportunidade de conhecer lugares (31%), a possibilidade de conhecer pessoas (19%) e o sentimento de liberdade (11%).
Outras respostas: 76% dos caminhoneiros disseram que a maioria dos colegas usa rebite; 59% têm algum problema de saúde, como dor nas costas, pressão alta, estresse e obesidade; e 93% consideram a profissão arriscada devido a acidentes, roubos e assaltos.
Para Nereide Tolentino, apenas diminuir a sobrecarga de trabalho dos motoristas não resolve o problema: “Carga horária e baixa remuneração não são as principais queixas dos caminhoneiros, embora eles reclamem disso também. Eles sentem falta do laço afetivo, de passar mais tempo com a família. Reclamam muito dos imprevistos que prolonguem sua ausência do lar”.
Uma solução apontada pela especialista é o rodízio de motoristas, como já acontece no transporte de passageiros. Outra é investir na valorização do profissional, oferecendo treinamentos e melhor acolhimento nos pontos de carga e descarga. “Com mais profissionais satisfeitos, teremos mais gente interessada neste tipo de trabalho, pois viajar e dirigir uma máquina possante é algo que fascina os jovens”, destaca Nereide.
TECNOLOGIA – Digitar uma mensagem no celular aumenta em 23 vezes a chance de um acidente. Esse número foi revelado no seminário por Carl-Johan Almqvist, diretor de segurança da Volvo Trucks.
Segundo ele, no mundo todo morrem 3.400 pessoas por dia em acidentes de trânsito, o equivalente a 10 acidentes aéreos. No Brasil são 103 e na Índia 367, sendo 82% homens.
Carl lembrou que foi a Volvo a inventora do cinto de segurança de três pontos, o que permite dizer, segundo ele, que existe um pouco de Volvo em todos os veículos do mundo hoje. Nos caminhões Volvo o cinto de segurança está presente desde 1979.
Sobre a importância do uso do cinto, o diretor da Volvo salientou que, segundo estatísticas europeias, 50% dos acidentes são capotagens ou tombagens: “Nestes casos, sem o cinto, o próprio veículo atropela o motorista”.
Algumas tecnologias para diminuir o risco de acidentes, que até pouco tempo eram apenas uma tendência para o futuro, começam a se tornar realidade na Europa. Certos dispositivos de segurança ativa vão se tornar exigência nos países europeus em 2015. É o caso do LKS (Lane Keeping Support, ou Monitoramento da Faixa de Rodagem), que emite um sinal sonoro quando o caminhão cruza a faixa sem sinalizar. A lei europeia também obrigará a instalação de um sistema de freios de emergência, o AEBS.