O olhar dos presentes no lançamento da exposição no Museu Sagarana
Luciano Alves Pereira
Revista Carga Pesada
A mineira Itaguara foi premiada em 1959, com a passagem da BR-55 (atual BR-381) por um de seus cantos cheios de morros. Apesar da topografia adversa, a via tinha de chegar à capital. Os cortes a leste da cidade resultaram em marcas mais profundas do que mostraram o terreno sem verde. Em pouco tempo, Itaguara tornou-se uma das dezenas de truck cities do estado, identificada com a classe que lhe move a economia. Neste agosto, foi a vez de mais homenagens aos caminhoneiros. Houve coleta de fotos dos pioneiros e montada uma rica exposição no ambiente do Museu Sagarana local.
Ana Maria Rezende nasceu lá e se criou às margens da Fernão Dias, justo no trecho onde esta atravessa um ou dois de seus bairros. Historiadora, conhecedora e curiosa quanto ao assunto, além de cercada de caminhoneiros por todos os lados, fala com propriedade sobre o tema.
“Uma justa homenagem. Antes de sê-la agora, já o era de tradição estradeira [Itaguara]. Vieram primeiramente as trilhas indígenas , depois as picadas. Os caminhos dos bandeirantes e também as estradas/carreiras, usadas pelos tropeiros. Hoje são rodovias estaduais e federais, tão presentes na vida dos estradeiros-caminhoneiros. Não só dos itaguarenses, mas de todos os mineiros e brasileiros!
Homens com alma desbravadora, cheia de sonhos; sonhadores, mas também realizadores. Caminhoneiros, carreteiros, viajantes, repletos de histórias e estórias para contar e rememorar! Itaguara,emancipada em 1943, é uma cidade no centro das Gerais, antes cortada pela antiga Estrada de Rodagem Belo Horizonte-São Paulo (1930). Depois viu nascer a rodovia Fernão Dias (1959). Assim, os estampidos dos motores sempre estiveram presentes no cotidiano e sustento das famílias locais.
O resgate fotográfico via exposição intitulado Itaguara no Retrovisor: entre estradas e estradeiros, aberta em 15 de julho, irá até 18 de setembro. Ali se vê a alma do caminhoneiro itaguarense. Aquele que tem no caminhão a realização do sonho de prosperidade própria e da família. Foto histórica , como a da chegada do primeiro automóvel em 1930, virou símbolo. Veio da vizinha Itaúna, para o ainda não emancipado distrito. Tem também a da imagem de N.Sra.de Lurdes, colocada em setembro de 1959 na capela que fica às margens da Fernão Dias, em trecho onde ficam as mal afamadas curvas da cidade. Quanta lembrança se resgata com a exposição das fotos! Entretanto, o mais marcante foi descortinar o olhar do estradeiro sobre sua própria história.
Uma foto diz muito. No caso, recupera a sua lembrança ao longo do caminho percorrido, a memória dos presentes e dos ausentes. Especialmente daqueles que se foram no exercício da profissão, fazendo nascer a saudade, não só na família e amigos, como em toda a cidade. Ao mesmo tempo, acordar para a realidade de hoje, bem diferente da de outrora. Sobrava tempo. Até para um inesquecível fotógrafo que parava os passantes, ali no meio da recém-construída ponte sobre o portentoso Rio Grande, para um registro fotográfico definitivo. Ainda hoje está lá. Próxima às cidades de Lavras e Ribeirão Vermelho, ambas em Minas. O condutor pulava pra fora da boleia e posava de pé.O compromisso era entregar a foto na viagem seguinte. O reconhecimento itaguarense faz com que sintamos orgulho de nossos destemidos estradeiros. Homens que ‘colocaram o pé na estrada’ para transportar sonhos e esperança de um futuro próspero”.