Muitos motoristas já viram que, sem se atualizar, é difícil acompanhar a tecnologia e obter melhores postos de trabalho
Um dos questionamentos mais ouvidos na viagem do presidente da Volvo pela BR-153, principalmente dos caminhoneiros mais jovens, foi sobre oportunidades de treinamento. Todo o mundo quer uma, como Roger Alm pôde ouvir nas várias oportunidades em que parou em postos de combustíveis.
Por que todo esse interesse? Um dos caminhoneiros que estiveram com o presidente da Volvo, Magno Ferreira, de 25 anos, deu a resposta: “Porque caminhão bom é como um celular. Não adianta ter um aparelho novo se você não sabe mexer”.
Magno contou à reportagem da Carga Pesada como tem sido a sua trajetória no transporte de cargas. Ele é empregado e dirige um Ford Cargo ano 2005. Aprendeu a dirigir com o pai, David, que também é caminhoneiro. Seu patrão acaba de comprar um Volvo VM e com isso ganhou cursos. Ele está tentando convencer o patrão a mandá-lo para o treinamento.
“Tudo o que sei eu devo ao meu pai. Gosto de caminhões desde criança. Mas quero continuar a aprender, saber dirigir bem, conhecer o caminhão, as normas de trânsito. O que eu não souber, eu vou pesquisar e procurar aprender”, diz o motorista.
Natural de Capão Bonito (SP), e animado com as perspectivas da profissão, Magno vê os caminhões superequipados de hoje, mas acha que quem faz o caminhão é o caminhoneiro: “O caminhoneiro ideal é simples, honesto, age com sabedoria e ajuda o outro”.
Otimista, ele acredita que, por mais que se diga o contrário, existe união entre os caminhoneiros: “Hoje mesmo, aqui no posto, uma carga que não servia para mim, passei para outros. E muitos fizeram o mesmo comigo. Só estou aqui ainda porque quero passar o Dia dos Namorados em casa e não consegui nada para a minha região. Vou acabar voltando vazio porque tenho frete saindo da minha cidade”.
Casado há seis anos com Daiane, diz que, quando tiver filhos, vai ensiná-los a serem responsáveis e honestos, qualquer que seja a profissão que escolham, do mesmo jeito que seu pai ensinou: “Eu e meu pai somos companheiros de estrada, se não estamos viajando juntos, nos falamos pelo telefone várias vezes por dia”.
SIMULADORES – Não são apenas os empregados que estão preocupados com a questão da falta de oportunidades de treinamento. Os empresários também estão, como o presidente do G10 de Maringá (PR), Claudio Adamucho, que criou o CTQT, um centro para formação de motoristas.
Para ele, só ter carteira de habilitação E não resolve. “Fazer um motoqueiro, um taxista, um tratorista virar motorista profissional é impossível sem alguns pré-requisitos”, argumenta.
Claudio acredita que o Sest/Senat deveria assumir este papel. A solução poderia ser, por exemplo, adquirir pelo menos uma centena de simuladores de direção e espalhar por todas as unidades do País. “Vários países da Europa produzem simuladores avançados e o governo poderia isentar os impostos de importação para estimular a aquisição, inclusive por parte das empresas”, defende.
Segundo Adamucho, o G10 recebe muitos currículos, mas não chega a 10% o total de candidatos que reúnem condições para pegar a estrada: “No simulador, esta fase inicial do aprendizado ocorreria sem oferecer riscos, depois sim o candidato partiria para a aula prática, com instrutor”.
O problema da falta de bons profissionais do volante vai se agravar, na opinião do presidente do G10, quando for aprovado o Estatuto do Motorista, que está em tramitação no Congresso e deverá regulamentar a jornada diária de trabalho da categoria.