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MÊS DO CAMINHONEIRO E DA CAMINHONEIRA: Menos conversa, mais atitude

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Caminhoneiros e caminhoneiras apontam o que precisa mudar para a profissão tornar-se novamente atrativa

Nelson Bortolin

Enquanto a maioria da população segue sua rotina nas cidades, uma legião de heróis e heroínas encara uma realidade bem puxada: jornadas exaustivas, estradas cheias de buracos, paradas inseguras e banheiros que mais parecem um castigo. Muitos ainda têm que pagar para dormir mal. Comem onde dá, quando dá. E tudo isso por um frete que, muitas vezes, não cobre nem o desgaste do caminhão — nem do corpo.

Julho chegou, e junto com ele vêm as homenagens aos caminhoneiros e caminhoneiras. É vídeo bonito para cá, post nas redes para lá… Mas quem vive na boleia sabe: mais do que palavras bonitas, o que essa turma quer mesmo é atitude. Eles estão longe de casa, longe da família, enfrentando perrengue para manter o Brasil abastecido — e o mínimo que merecem é dignidade para trabalhar.

Neste mês do caminhoneiro e da caminhoneira, a Revista Carga Pesada foi pra estrada perguntar para eles: O que precisa mudar para que ser a profissão volte a ser atrativa para os mais jovens? Dá uma olhada no que eles disseram.

Alessandro Barbosa, 44 anos, do sertão de Sergipe, afirma que o que falta é “uma área de parada com segurança e banheiro limpo”. Dono de um Scania P 320, 2004, ele conta que muitas vezes dorme em postos desconhecidos, sentindo-se vulnerável. Além disso, recusa fretes que julga mal pagos, mesmo que isso implique passar longos períodos longe da família. “Tem viagem que passo 15 dias fora. A mais longa que fiz agora durou 53 dias.” Apesar da saudade das filhas, declara: “Gosto não, eu amo a minha profissão. Meu pai era caminhoneiro. Meus irmãos também. Já vem de família.” Alessandro vê o amor pelo trabalho como o que o sustenta na estrada. “Se eu não amasse, já teria parado. Mas enquanto eu puder, vou seguir.”

Mais união na categoria

Para José Carlos Medeiros Júnior, 57 anos, de Guaíba (RS), a situação da categoria é crítica. “Tá tão bom o serviço que meu caminhão tá parado dentro da oficina. O motor quebrou e eu não consegui consertar.” Com quase três décadas de estrada, hoje sobrevive de “bicos de empregado”. Um dos principais problemas, segundo ele, é o comportamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF). “Eles te param e, se não acham nada, inventam alguma coisa pra multar.”

A estrutura nas rodovias também é alvo de críticas: “Às vezes a gente paga R$10 num banheiro e ainda tá sujo.” Além disso, o sistema de fretes é desleal e marcado pela desunião. “A transportadora me deu a carga, mas depois cancelou. Achou outro que cobrou mais barato. É a desunião da classe.” José Carlos é enfático: “Se fosse pra começar hoje, eu não começaria.”

Mais recente nas estradas, Pablo Cristóvão Garcia, 42 anos, de Cambé (PR), está há apenas oito meses como caminhoneiro. Mesmo assim, já identificou o principal entrave da profissão: “A gente precisa de lugar para parar, descansar e comer com dignidade.” Por incrível que pareça, ele diz que foi para a boleia em busca de qualidade de vida. Ex-vigilante, largou dois empregos exaustivos após um desmaio no trabalho. “Peguei meu acerto, comprei o caminhão (um Mercedes-Benz 1519) e comecei do zero.” Hoje, diz ter mais qualidade de vida e tempo com a família. No entanto, aponta os custos altos em postos e a falta de banheiros limpos como obstáculos. “Mesmo pagando, tem lugar que tá bem sujo.” Para ele, áreas de descanso seguras fariam diferença: “Com mais respeito e estrutura, a vida do caminhoneiro pode ser muito melhor.”

Noemy Nascimento dos Santos

Na visão de Noemy Nascimento dos Santos, caminhoneira paulista, o que falta é estrutura, respeito e dignidade. “Pagamos pedágio e praticamente não temos nada em troca.” Ela aponta que há poucos pontos oficiais de apoio a caminhoneiros em todo o país. As condições ruins das estradas afetam a saúde dos motoristas, e muitas empresas tratam os profissionais com desumanidade. “Tem lugar que a gente não pode nem cozinhar, mas também não tem restaurante acessível.” Ela relata casos em que são proibidos até de usar gás de cozinha: “Como é que você quer que um motorista tenha qualidade de vida se ele não consegue nem tomar um café ou fazer uma janta?”

Mais respeito no embarque

Com mais de 50 anos de estrada, o caminhoneiro autônomo mineiro Wellington da Torre conhece de perto os principais problemas da profissão — e aponta o que precisa mudar para que ela volte a ser atrativa. Ele critica a falta de estrutura nas rodovias, especialmente a escassez de pontos de parada adequados e a exigência de consumo nos postos para poder pernoitar. “Não é acolhimento, é interesse comercial”, resume.

Outro ponto que chama atenção é o tratamento recebido nas empresas durante carga e descarga. Segundo ele, muitos motoristas são recebidos com desconfiança, como se fossem criminosos. “O mínimo seria treinamento para nos tratarem com dignidade”, afirma. Wellington também denuncia a prática comum de ameaças: “Se reclamar, dizem que você nunca mais carrega ali”.

O sistema de fretes é outro gargalo. Ele critica o chamado “leilão de frete”, em que as empresas oferecem valores baixos e fingem ter outros motoristas prontos para aceitar. A desunião entre os próprios caminhoneiros, principalmente os autônomos, agrava o problema. “Alguns aceitam qualquer valor, o que puxa todo o mercado para baixo.”

A distância da família também precisa ser repensada, segundo Wellington. Para ele, ficar mais de uma semana longe de casa é prejudicial, especialmente para quem tem filhos pequenos. “Os filhos precisam de referência. Caminhoneiro também tem família, e isso deveria ser levado em conta.”

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PB Lopes