Governo e embarcadores estão em compasso de espera pelo julgamento de 4 de setembro; caminhoneiros prometem mobilização
Nelson Bortolin
Principal aliado dos caminhoneiros no governo Bolsonaro, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, deu uma declaração polêmica em jantar com empresários e jornalistas na terça-feira (6).
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, que esteve no evento promovido pel portal Poder 360, o ministro chamou a tabela de frete de “aberração”.
Justamente ele que vem negociando os pisos mínimos com embarcadores e transportadores. Para Freitas, é preciso “desmamar” os caminhoneiros e deixar que a tabela morra naturalmente, segundo o jornal.
O ministro disse que a tabela é um problema que o atual governo herdou do passado e que não é possível acabar com ela de um dia para outro. Disse ainda que não vê riscos de nova greve dos motoristas.
“A causa do problema é a política industrial errada. O Produto Interno Bruto (PIB) e a frota sempre caminham juntos. O que aconteceu no Brasil? O PIB caiu e a frota subiu. O caminhoneiro está lá morrendo, só não consegue perceber que é por causa do excesso de oferta. Aí me manda mensagem: ‘Ministro, nós estamos morrendo. Estão mesmo”, disse ele, de acordo com O Estado de S.Paulo.
Fretas também afirmou que o Supremo Tribunal Federal (STF) está com medo de julgar as ações que visam derrubar a tabela de frete. O julgamento está marcado para 4 de setembro. “Se decide pela inconstitucionalidade (do piso mínimo de frete), será que o Brasil para amanhã?”
Apesar de considerar a tabela uma “aberração”, ele defendeu acordo entre as partes até que se possa fazer “renascer a cultura de livre negociação.”
Ingressaram com ações diretas de inconstitucionalidade no Supremo as seguintes entidades: Associação do Transporte Rodoviário de Cargas do Brasil (ATR Brasil), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Confederação Nacional da Indústria (CNI).
As entidades alegam que o piso mínimo de frete desrespeita os princípios da livre iniciativa e da livre concorrência.
DIA DE LUTA – Um dos líderes que negociam com o governo , Carlos Alberto Dahmer, o Litt , disse que as conversas emperraram desde a semana passada porque o embarcadores não compareceram para reunião.
Presidente do sindicato de autônomos de Ijuí (RS), Litti lembra que o ministro havia marcado reuniões separadas entre embarcadores, empresas de transporte e caminhoneiros o período de 4 a 7 de agosto. “Não apareceram e não mandaram notícias”, afirma.
De acordo com o sindicalista, o governo convocou novas reuniões para a semana que vem. Ele acredita que tanto o governo como os embarcadores estão tentando ganhar tempo até que o Supremo tome uma decisão sobre a constitucionalidade ou não da tabela.
“Há fortes divergências entre as partes. Os embarcadores querem que a tabela de frete seja apenas referencial e não obrigatória. Mas, para nós, essa referencial não resolve nada. Não há a mínima possibilidade de aceitarmos uma tabela que não seja vinculativa.”
Litti afirma que as lideranças estão programando protestos até o julgamento do Supremo e que no dia 4 de setembro poderá haver paralisações da categoria. “Vamos mostrar para o Supremo que a tabela é nossa salvação.”
A Revista Carga Pesada entrou em contato com o Ministério da Infraestrutura para questionar Freitas sobre suas declarações, mas até agora não obteve retorno.
1 comentário
Caro senhor Osmar Lima, boa tarde!
Na verdade esses governantes jamais estiveram ao nosso lado, quase sem exceção são empresários e os principais interessados em frete abaixo do desejado, pois são eles quem ganham com isso!
Quando ele fala que a culpa é do excesso de ofertas de caminhões, ele está em parte correto, porém a,a maior culpa é nossa mesmo!
Quando me oferecem um frete que não cobre o investimento, o custo e deixa o lucro eu não devo aceitar, mas não é o que acontece. Se um não aceita, vem um outro e oferece até por menos.
Para se ter uma ideia, me ofereceram um frete para deslocamento de 3.00 km, 6.000 km ida e volta, (meu caminhão não encontra retorno) passei o orçamento, o cliente que é uma trasportadora em uma sala de menos de 30 metros quadrados, nada contra os pequenos, achou o preço muito alto e que eu estava fora da realidade, assim não aceitei. Passados uns dois dias ele me retorna tentando negociar, negociei dentro do que era possível e quando carreguei, peguei a documentação e vi no manifesto o valor 4 vezes maior que o preço a mim pago. E não era valorzinho não! Com todos os custos e os impostos ele ganhou mais de 70% do valor total, nada contra pois recebi o que desejei!
Isso é o que tem ocorrido, para nós é sempre alto o valor do frete, mas para eles é sempre baixo.
Temos é de nos unir e vencer essa luta entre o capital e o trabalho para que possamos ter ganhos razoáveis que nos encha de orgulho e satisfação pelo que fazemos, do contrario é só choramingar.
Quando nos unimos temos vitórias, mas quando agimos com individualismo como acontece só nos resta a “morte súbita”