O empresário Valmor Weiss, do Grupo V. Weiss, de Curitiba, foi o primeiro entrevistado da Carga Pesada, em janeiro de 1985. Então presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), ele estava preocupado com a falta de caminhões para transportar a safra de grãos, que crescia a cada ano e já estava em 50 milhões de toneladas. Hoje, é quatro vezes maior.
Outro problema para ele é que os caminhoneiros não tinham onde parar para descansar – como ocorre hoje! Por causa dos assaltos, os postos de combustíveis de rodovias fechavam à noite.
Valmor Weiss lembra que o problema mais sério do transporte de cargas nos anos 80 era a segurança: em um ano, 100 caminhoneiros haviam sido mortos em assaltos. “Começamos a implantar os primeiros sistemas de segurança.” Eram à base de radioamadores instalados nos postos de combustíveis. “Quando o caminhoneiro chegava ao posto, dava uma senha e, por rádio, nos avisavam que ele havia passado pelo local”, conta.
O crime organizado estava por trás dos assaltos. Weiss, que também era vice-presidente da NTC&Logística, teve uma prova concreta quando foi a uma reunião em Campo Grande (MS). “Fomos lá para montar um esquema de segurança e tentaram me matar. Quase me atropelaram quando eu saía do hotel. Depois me ligaram: ‘Ó, nós não erramos, não. Ou você vai embora, ou morre’”.
Weiss lembra de ter brigado feio com o então ministro da Justiça, Ibraim Abi-Ackel, que disse num congresso do TRC que o governo federal não tinha nada a ver com o roubo de cargas, era problema dos Estados. “Joguei uma mesa em cima dele. Foi um estardalhaço.”
No entanto, aquele trabalho surtiu efeito. “Em 1987, o número de caminhoneiros mortos baixou para 10 e, no ano seguinte, para zero”, recorda. Mas Weiss sabe que o problema não foi resolvido em definitivo. Ao menos a vida dos motoristas tem sido poupada pelos assaltantes: em geral, os caminhoneiros são feitos reféns e libertados no meio do mato.
Weiss é um entusiasta da Lei 12.619, a Lei do Descanso. “Lutamos 20 anos para conseguir a jornada de oito horas. E ainda não emplacou direito.” Para ele, a lei não vai contra os interesses dos empresários. “A ideia nossa é que a lei nivelaria por cima. Os fretes aumentariam para a empresa e para os caminhoneiros.”
Hoje, aos 77 anos “bem vividos”, ele conta que seu grupo empresarial mantém um braço no setor de transportes, “porque é a paixão de uma vida”. “Tenho 40 caminhões. Faço transporte de carga fracionada no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.”
Nosso primeiro entrevistado
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