Reportagem: Dilene Antonucci
Redação: Nelson Bortolin
Revista Carga Pesada
A notícia de que empresários do transporte pretendem pedir ao governo a suspensão temporária das linhas de financiamento de caminhões pegou de surpresa executivos da Ford na manhã desta quinta-feira (4) durante evento da montadora em Campinas. Segundo a Folha de S.Paulo (clique aqui para ler) cerca de 300 transportadores apresentaram a proposta à NTC&Logística (associação nacional que representa as empresas de transporte) na semana passada. Os empresários alegam que os fretes estão caindo devido à recessão econômica e ao excesso de oferta de caminhões no mercado.
“Fiquei surpreso com essa notícia”, admitiu o diretor da Ford Caminhões, João Pimentel (clique abaixo para ouvir entrevista).
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Ele reconhece que existe uma “falta de serviço” de transporte devido à fraca atividade econômica e que “tem bastante caminhão parado”. “Acho que (os empresários do transporte) estão buscando proteger o deles, tentando evitar que mais caminhões entrem no mercado”, declara. Ao mesmo tempo, o diretor classifica a medida como protecionista e pondera que, se o governo atender o pedido, a indústria de caminhão vai parar pois “vive 80% de financiamento”.Pimentel conta que o setor está pedindo para o governo melhorar o Finame, linha para financiamento de caminhões do BNDES. A indústria, segundo ele, acha razoável os juros atuais, baseados na TJLP. Mas quer ampliar o porcentual financiável, que hoje é de, no máximo, 80% do valor do caminhão. “Estamos pedindo para ir a 90%, 100% porque o cliente tem de financiar (os 20% que não são cobertos pelo Finame) a uma taxa de mercado de 28%”, ressalta.
O gerente de vendas da Ford Caminhões, Antônio Baltar, também se surpreendeu com a notícia da Folha de S.Paulo. “Fiquei sabendo hoje da posição dos empresários junto à NTC. A gente vê com preocupação. Ninguém é míope de não enxergar a gravidade do problema econômico no Brasil, mas um posicionamento desse mostra uma ruptura complicada”, ressalta (áudio da entrevista abaixo).
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Baltar conta que o impacto da atual crise é diferente para cada segmento de clientes da montadora. “Quando a gente olha nossa carteira de clientes do setor de infraestrutura, por exemplo, esse pessoal tem reportado um sofrimento muito maior”, explica. Por outro lado, o agronegócio, segundo ele, vive uma situação melhor. E, embora não esteja fazendo “grandes compras”, não deixou de adquirir caminhões.
Baltar alega que o setor não espera nenhuma recuperação para 2016. “Os fundamentos da economia não estão bons. Acreditamos na recuperação no ciclo 2017/2018.” Pimentel também não acredita em melhora rápida do mercado de caminhões novos. Pelo contrário, acha que neste ano serão vendidos ainda menos caminhões que no ano passado. De acordo com o diretor, numa visão pessimista, serão vendidos 65 mil veículos em 2016 e, numa otimista, 70 mil.
2 Comentários
Aquele que auto atropelou-se em grandes compras de veículos e equipamentos, vão amargar uma crise de pouco serviços e estradas péssimas mal conservadas pedágios caros, demora de cargas e descargas com diminuição de viagens ao mês causando atrasos nós pagamentos com inadimplências estrondosas.
Fique evidente a falta de visão de futuro e a falta de gerenciamento das variáveis de transporte pelo governo. Enquanto não tivermos um cronograma de investimentos e este cronograma seja cumprido, não poderemos organizar o trasporte de cargas/mercadorias no Brasil. Modais incorretos para trechos e cargas incorretos, baixo faturamento por quilômetro rodado, baixa produtividade/efetividade no transporte de cargas/mercadorias. Aliado a isto a INSEGURANÇA nas estradas, portos, ferrovias e aeroportos, gerando uma sociedade psicologicamente instável e receosa de enfrentar mais um dia de trabalho, sem qualquer garantia ou perspectiva, à sua própria sorte, ao “Deus dará”.
Essa combinação perversa de circunstâncias é que levam mais e mais grupos a ter ideias “estranhas”, “obscuras” e “sem noção”, não levando em conta qualquer contexto social.