O diesel muito mais limpo, que os caminhões novos precisarão a partir do ano que vem, exigirão grandes investimentos dos revendedores de combustíveis
Dilene Antonucci
Dos oito mil postos de rodovias existentes no Brasil, só 1.200, até agora, manifestaram interesse em revender o diesel S50 (com 50 ppm – partículas por milhão – de enxofre), necessário para os motores com os níveis de emissão do Conama Fase P 7 (equivalente a Euro 5), que equiparão os novos caminhões a partir de janeiro de 2012. A informação foi dada pelo diretor da ANP, Alan Kardec, durante encontro promovido pela Anfavea no final de maio.
“O investimento em tanques e bombas pode variar de R$ 80 mil a R$ 300 mil, dependendo do porte da revenda”, estima Roberto Fregonesi, presidente do Sindicombustíveis do Paraná. “E como o transporte também terá que ser feito em tanques exclusivos, isso vai gerar mais custos para um produto que, de início, terá uma demanda muito baixa”, explica.
Para Aldo Locatelli, maior revendedor de diesel de Mato Grosso e presidente do Sindipetróleo/MT, o ideal seria a Petrobras colocar o diesel S50 (que tem melhor qualidade que o atual) em quantidade suficiente para abastecer todos os caminhões e não apenas os novos. Com isso, os níveis de emissões seriam menores e o investimento dos postos daria retorno rapidamente. “Mas nós nem sabemos ainda quanto custará o novo diesel, só sabemos que será mais caro”, diz ele.
A previsão do diretor da ANP é que nos próximos 60 dias o número de postos interessados em vender o novo diesel dobre: “O ideal seria ter uma rede de pelo menos 2.500 postos fornecendo o diesel S50 e acredito que até janeiro isso seja possível”, informa Kardec.
IMPORTAÇÃO – No encontro realizado pela Anfavea, a Petrobras deu garantia de que o novo diesel estará disponível em janeiro de 2012. Sem ele (e com o combustível atual), os motores não funcionarão bem. Mas ainda não se sabe qual será o preço, segundo o consultor de negócios da empresa, Sérgio Fontes. A maior parte do combustível a ser usado no Brasil (85%) será produzida aqui mesmo, o restante será importado.
Segundo Fontes, é preciso haver grande demanda para produzir um combustível como esse. As novas refinarias, denominadas “Premium” pela Petrobras, estão se preparando para, a partir de 2013, produzir um diesel ainda mais limpo, o S10, que vai substituir o S50. Mas o atual diesel metropolitano, S500, continuará sendo feito. Já o diesel “para o interior”, S1800, deixará de existir em 2014, explicou o consultor.
Nos estudos apresentados pela Petrobras há outra variável prevista. Acredita-se que, mais perto do fim deste ano, muitos transportadores anteciparão compras de caminhões novos, ainda com motores Euro 3, mais baratos que os Euro 5. Isso pode fazer com que os novos caminhões só venham a ter uma procura mais intensa a partir do final de 2012.
A previsão de preços dos novos caminhões varia. A MAN diz que poderão ser 10% a 20% mais caros que os atuais, sendo maior o aumento nos veículos mais leves. Já a Mercedes-Benz fala de 8% a 15%. Uma coisa é certa: as emissões serão menores, mas os custos do transporte subirão.
“O preço do caminhão tem um peso de 50% na planilha de custos do transportador, é maior que o diesel, que também será mais caro”, explica Neuto Gonçalves dos Reis, assessor técnico da NTC&Logística. Para ele, a grande massa de transportadores ainda não está sequer informada sobre estas mudanças.
Os novos motores, no entanto, deverão consumir menos combustível – 5% a 8%. “Além disso, os intervalos de manutenção serão maiores e terão um custo menor”, diz Gilberto Leal, responsável pela área de motores da Mercedes-Benz.
ARLA 32 – Outra preocupação citada no encontro da Anfavea é com a distribuição do Arla 32, que será usado no tratamento dos gases do escape. Trata-se de um produto químico composto por 32,5% de ureia dissolvida em água, capaz de neutralizar o óxido de nitrogênio (NOx) resultante da combustão, convertendo-o em substâncias inofensivas: nitrogênio e água. O NOx é o gás mais nocivo à saúde emitido pelos motores diesel.
Segundo Achille Liambos Jr., diretor da divisão de Arla 32 da Yara Brasil, que já produz e distribui o produto em larga escala na Europa e América do Norte, é possível distribuir o reagente sem maiores dificuldades em todo o Brasil.
O único senão é que o líquido não pode sofrer contaminação durante o transporte. “Terão que ser usados somente tanques de aço inoxidável ou recipientes plásticos de boa qualidade”, afirma Liambos. Embora seja corrosivo, o líquido não é tóxico, explosivo ou nocivo para a saúde ambiental.
O diretor da Yara destacou o potencial do Brasil na produção do reagente, com ureia fornecida por Petrobras e Vale. “Poderemos figurar, em breve, como o quinto maior fabricante mundial de Arla 32, com dois milhões de toneladas/ano e, possivelmente, seremos o segundo maior mercado consumidor”, afirma.
Liambos Jr. projeta que três quartos da distribuição de Arla 32 deverão ser feitos a granel, da mesma forma como é vendido qualquer combustível. Sobre o preço do produto, acredita que ficará em torno da metade do preço do diesel.
O consumo da Arla 32 costuma ser de 5% do consumo do diesel. Ou seja: um caminhão pesado rodando 120 mil quilômetros por ano consumirá em torno de 60 mil litros de diesel e três mil litros de Arla 32.