Com peso superior a 50% nos custos do transportador, o preço do diesel brasileiro é muito mais alto do que precisaria ser. O governo promete baixar, mas não diz quando nem quanto
Nelson Bortolin
O óleo diesel está custando mais de 80% acima do preço que ele costumava custar no Brasil. Pra ser preciso, seu preço, em fevereiro, estava 82,83% mais alto que a chamada “média histórica”, segundo um estudo realizado pela Coopercarga, de Concórdia (SC).
O pessoal da Coopercarga cruzou os valores do petróleo, do dólar e do diesel (para revenda) no período de 2003 a 2008 e comparou com o intervalo de dezembro de 2008 a fevereiro de 2009. Deu uma diferença enorme, como se um produto que custava R$ 1,10 tivesse subido para R$ 2,01.
O resultado do estudo foi comunicado ao presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli de Azevedo. Na carta que mandou junto, o presidente da Coopercarga, Dagnor Roberto Schneider, escreveu que o diesel brasileiro é “o mais caro do mundo”. Provavelmente, Azevedo já sabia disso. “Não há fatores que justifiquem o valor do diesel, que hoje representa de 49% a 52% dos custos da operação de transporte”, acrescenta Schneider, que vem se batendo pela redução do preço do diesel no Brasil há muito tempo. Lá por 2005, 2006, ele já chamava a atenção das autoridades para distorções graves no preço do diesel, que em certo período subiu 140% enquanto a gasolina subiu 40%. Se o diesel não baixar agora, a Petrobras será responsável pela “falência do setor de transporte”, afirma o presidente da Coopercarga. “E isso não vai demorar para acontecer”, completa.
PROMESSAS – A Petrobras não mandou resposta. Mas Dagnor acha que o diesel vai baixar. Gente do governo já falou nisso, sem dizer quando nem quanto. O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou que o preço do diesel poderá ser reduzido em agosto. Já a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Roussef, que é vista como potencial candidata à sucessão do presidente Lula, prometeu “agilizar a medida” a líderes de caminhoneiros. “Assim como o governo já salvou vários setores, nada mais importante que socorrer o transporte rodoviário de carga. Nós somos a economia”, disse Nélio Botelho, presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), que esteve com Dilma.
De quanto pode ser essa redução? Nélio Botelho diz que a ministra se comprometeu “com um percentual próximo de 30%, como nós pedimos”. Dagnor Schneider prefere não arriscar, dizendo apenas que “há uma margem grande” entre o preço atual do diesel e “aquele que seria justo”.
Ele acaba de chegar de uma viagem aos Estados Unidos. Lá, o diesel está custando 2 dólares o galão (3,6 litros), coisa de R$ 1,20 o litro. “Não há razão para estarmos pagando tão mais caro no Brasil”, reafirma.
Outros transportadores estão pessimistas quanto a esse assunto. Como o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Paraná (Setcepar), Aldo Fernando Klein Nunes. “Estamos participando de discussões, mas fica claro que a decisão é da Petrobras e não do governo, e ela não pretende reduzir o preço do diesel”, diz ele.
É CENA? – Paulo Ossani, diretor da Transportes Cavalinho, com sede em Vacaria (RS), desconfia das conversas de que o governo poderia interferir pela redução do preço do diesel. “Se for apenas um jogo de cena político, vai prejudicar ainda mais as empresas”. Que tipo de jogo de cena? “Tenho receio de que uma medida dessas seja tomada às vésperas de um processo eleitoral e depois o preço retorne à situação de hoje”, completa Ossani.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), José Carlos Silvano, também está com as barbas de molho. “Para elevar o preço, a Petrobras leva uma tarde, mas para baixar vai um ano. Conversamos com a Petrobras, mandamos carta para ministros, e nada. O preço do diesel é um escândalo e a Petrobras está fazendo caixa em cima do transportador.”
Procurado pela Carga Pesada, o Ministério das Minas e Energia (MME) deu a seguinte resposta por meio da assessoria de imprensa: “No momento, o MME não está falando sobre o assunto”. A assessoria da Casa Civil respondeu: “O assunto foi encaminhado para análise do Ministério da Fazenda, que ainda não tem definição”. E a Petrobras não deu nenhum retorno.