“Estamos aqui para celebrar o lançamento de uma linha de financiamento voltada para os que dedicam suas vidas a uma atividade fundamental.” Assim falou o então presidente do BNDES, Demian Fiocca, no dia 9 de junho de 2006, num discurso diante do então presidente Lula. Falava do Procaminhoneiro, e referia-se aos caminhoneiros autônomos. Passados oito anos, pouco mais de 28 mil caminhões chegaram às mãos dos caminhoneiros autônomos por meio desta linha de crédito que, em boa parte desse período, cobrou juros menores que a inflação. O Procaminhoneiro, que também serve aos microempreendedores individuais e às microempresas com faturamento de até R$ 2,4 milhões por ano, respondeu por menos de 2% de todos os caminhões novos e usados financiados no período, segundo dados da Fenabrave. O programa tinha juros de 14% ao ano e eles foram baixando até 2,5% ao ano em 2012. Hoje, estão ainda muito baratos, 6% ao ano, iguais aos do PSI Finame, que é para as empresas maiores. Para se ter uma ideia, o financiamento por CDC passa facilmente de 30% de juros ao ano. Dinheiro sempre existiu, e é dinheiro público, mas, para o autônomo, é muito difícil pôr a mão nele. Quem decide se o cadastro do interessado merece crédito são os bancos comerciais, a quem o BNDES repassa os recursos do Procaminhoneiro. São eles (os bancos) que têm que devolver o dinheiro emprestado ao BNDES. Então, exigem garantias difíceis de atender para um caminhoneiro. Diante de reclamações gerais, em 2009 o governo criou o Fundo de Garantia de Investimento (FGI) – uma taxa extra nas prestações, para cobrir parte dos riscos dos bancos. Significou mais despesa para quem requer o financiamento. Mas, mesmo assim, o Procaminhoneiro continuou travado. Independente das críticas (que já foram maiores, é verdade), Paulo Sodré, responsável pelo departamento de máquinas e equipamentos do BNDES, acha que o programa tem cumprido sua finalidade. “O fato é que o caminhoneiro precisa mostrar que pode arcar com as parcelas. Em primeiro lugar, ele tem de ter uma conta em banco e ser fiel a essa instituição, tem de ter um bom relacionamento com o gerente. Isso ajuda muito”, declara. O gerente de uma agência do Bradesco disse à Carga Pesada que o banco só está operando Procaminhoneiro com FGI. “O cliente nem precisa ser antigo, mas tem de apresentar uma boa movimentação. Isso é o mais importante. A maioria dos pedidos feitos para nós é aprovada”, afirma. Segundo ele, não importa se o caminhão é zero ou seminovo. O gerente afirmou, no entanto, que neste ano a procura tem sido bem pequena na agência dele. “Estamos fazendo uma média de 10 Procaminhoneiros por mês”, disse. Em outros anos, de acordo com ele, esse número chegou próximo de 50.
Procaminhoneiro é bom, mas é para poucos
Compartilhar