Luciano Alves Pereira
Emergindo das sangrentas estatísticas do morticínio do trânsito, o simulador de direção aparece como recurso imediato a um sem número de esperanças. Para caminhões e ônibus o seu conceito é o mesmo que o do carro, mas bem mais complexo e caro quando se visa o profissional estradeiro. Na aviação, o aero-simulador é antigo, na ferrovia também. O fabricante do respectivo equipamento cuida de produzi-lo e oferecê-lo ao cliente, e tem o seu custo bem salgado.
Em2004, aCNT anunciou a intenção de importar algumas unidades de rodo-simuladores. Ainda hoje a entidade não se manifesta oficialmente, mas sabe-se que um conjunto está sendo esperado na Escola Profissionalizante do Transporte do Sest/Senat, de Três Pontas.
Ali, em instalações inauguradas em agosto, há espaço preparado para receber o simulador, “talvez no final deste ano”. Seu fabricante é europeu, cujo nome não foi possível conhecer. A Casa do Sest/Senat trespontana é considerada especial, com estrutura única. Dispõe de via de treinamento de duas pistas, separadas por mureta central, graças ao seu terreno de13 hectaresna zona rural. Um cavalo mais carreta-baú (Iveco) está à disposição dos treinantes, que também podem ser profissionais e aprendizes do setor agrícola (operadores de máquinas).
No mundo desenvolvido, essa ferramenta ganha adeptos aos poucos. Nos Estados Unidos, por exemplo, revistas especializadas divulgam que o simulador para caminhões, acompanhado de FMSS (sistemas de simulação com movimentação completa, sigla em inglês) pode custar US$ 100 mil, ou mais que um conjunto cavalo-carreta. No entanto, há frotistas que vêem o rodo-simulador como desembolso que se paga em pouco tempo.
Falando a um periódico, Don Osterberg, diretor de segurança da grande frotista Schneider National, conta que usa simuladores desde 2005, os quais “têm influído na redução de 32% nas taxas de acidentes”. Isto comparado com o que ele chama de “métodos tradicionais de treinamento, baseados unicamente em trabalho de sala de aula, além de instruções e acompanhamento diretamente nas boleias dos veículos”.
Pela sua experiência de sete anos, Osterberg chega a afirmar que “uma hora ao simulador equivale a quatro de treinamento tocando caminhão”. Como o veículo consome cerca de2,5 galões(9,5 litros) de óleo diesel por hora, “só em combustível, são US$ 40 por hora de economia, ao não se valerem de caminhões (galão americano a US$ 4). As ‘boas contas’ desse equipamento estão vindo à tona mais recentemente, não só por rejeição ao seu alto custo, como pela demora no domínio da tecnologia.
Na Europa, a MAN alemã só montou o seu em 2004 e buscou a ajuda da universidade de Munique, cidade-sede da montadora de caminhões. A primeira unidade usou a cabine do seu modelo pesado TGA 18.430, disposta a dois metros de altura, sobre seis pés telescópicos. Uma tela semicircular rodeia a parabrisa e janelas do habitáculo, enquanto cinco projetores, coordenados por computadores criam imagens de movimento sequencial de200 quilômetrosde ruas, estradas e autopistas, digamos, cadastrados. E não faltam vibrações, zumbidos do motor e até baques do piso, sentidos pelo traseiro do condutor. Versões mais recentes da ‘geringonça’, é claro que incorporaram várias outras especificações. Oito anos é uma eternidade na disparada da TI.
O rodo-simulador oferece carradas de virtudes já conhecidas. Acelera o aprendizado do iniciante, recicla o ‘já rodado’ e possibilita uma espécie de pós-graduação ao volante de comerciais de todos os portes, com ênfase na direção defensiva. O equipamento tem recursos para simular manobras pânicas ─ e os meios de controlá-las ─, com riscos no limite, mas sem consequências reais. Ditas manobras, como por hipótese, falha de freios na descida do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, podem ser repetidas indefinidamente, até o condicionamento psicomotor do treinante.