Município do Mato Grosso do Sul registrou grande crescimento nos últimos anos por causa da oferta de energia e da facilidade para escoamento da produção
Guto Rocha
Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul, não tem a mesma característica dos dois entroncamentos que apresentamos nas edições anteriores – Ourinhos (SP) e Mafra (SC). O movimento das rodovias que passam por lá (BR-262 e BR-158) é bem menor que o sufoco vivido próximo a Ourinhos e Mafra.
Sorte de Três Lagoas. E mais sorte ainda porque Três Lagoas tem outras características de logística que a tornam especial. A mais importante: a cidade é servida também por trem e, para contar com todo o potencial da hidrovia Paraná-Tietê, só precisa da construção de um terminal. Se tudo isso não fosse suficiente para atrair desenvolvimento, Três Lagoas ainda pode apresentar dois trunfos na área de energia: a Usina Hidrelétrica de Jupiá, no Rio Paraná, fica lá pertinho, e o gasoduto Brasil-Bolívia passa por lá.
É claro que isso tudo já foi descoberto e o desenvolvimento chegou a Três Lagoas. Sua população saltou de oito mil para 20 mil habitantes desde 2007.
A cidade fica às margens do Rio Paraná, na divisa com São Paulo, no ponto em que termina a Marechal Rondon, uma das importantes e modernas rodovias paulistas. Está a 667 km de São Paulo, 337 km de Campo Grande, 260 km da divisa com Minas Gerais e a 350 km do Paraná.
De olho na energia farta, nas facilidades de transporte – e num programa de incentivos fiscais do governo de Mato Grosso do Sul –, indústrias de grande porte têm aberto fábricas em Três Lagoas em anos recentes. Segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Marco Garcia, o gasoduto Brasil-Bolívia abastece uma usina termoelétrica no município e fornece gás para as indústrias locais. “Temos um ramal dentro do parque industrial. É só a indústria abrir a ‘torneirinha’ para se abastecer”, ilustra.
Com tanto a favor, Três Lagoas tornou-se um importante polo têxtil, produzindo desde o fio até roupas feitas. Também estão lá a MetalFrio, segunda maior fabricante de refrigeradores comerciais do mundo; a Mabel, do ramo de alimentos; Emplal, de embalagens plásticas; Brascooper, que produz de fios de telefone até cabos pesados; e a Feral Metalurgia.
Hoje, o principal setor da economia local é o de papel e celulose. Em Três Lagoas está a Fibria, uma das maiores indústrias do setor do mundo. “Produz 1,3 milhão de toneladas de celulose/ano e é responsável por 13% do PIB (soma de toda a riqueza) do Estado”, afirma o secretário. A indústria transformou a cidade na maior exportadora do Mato Grosso do Sul.
Outra indústria de papel, que será a maior do mundo, já está sendo construída em Três Lagoas. Segundo o secretário, a Eldorado será erguida em etapas, sendo que a primeira será finalizada no ano que vem. “No final do projeto, a indústria terá capacidade de produzir cinco milhões de toneladas/ano”, afirma Garcia. Fora isso, estão sendo construídas uma unidade da Petrobras Fertilizantes e a Sitrel, projeto da Votorantin Siderurgia.
O grande crescimento da produção industrial ampliou a demanda pelo transporte de cargas. Apesar do município ter o Rio Tietê quase à sua porta, a hidrovia ainda é apenas um modal em potencial. “O transporte fluvial, a partir daqui, é algo para o futuro. Serão necessários investimentos por parte do governo de São Paulo”, comenta Garcia.
A hidrovia Paraná-Tietê atravessa a Usina de Jupiá por uma eclusa, inaugurada em 1998, ligando o Rio Sucuriu ao Rio Paraná. Mas, apesar da eclusa estar em Três Lagoas, nesse ponto a hidrovia não conta com um terminal portuário. Por enquanto, a via é utilizada para o transporte de grãos produzidos em Goiás.
Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, mesmo sem um terminal, a Cargil já utilizou a hidrovia algumas vezes. Existem estudos das indústrias de papel e celulose e da própria Cargil, em parceria com a prefeitura, para a implantação de um terminal fluvial no município.
A ferrovia que passa por Três Lagoas é administrada pela ALL Logística e é responsável pelo transporte de parte da produção das mineradoras localizadas do outro lado de Mato Grosso do Sul (na fronteira com a Bolívia), além de soja e óleo de soja, combustível, papel e celulose. A ferrovia leva ao Porto de Santos.
A grande força do transporte, no entanto, está nos caminhões que circulam pelas rodovias que cruzam o município. Só a Fibria recebe, diariamente, 48 mil árvores para transformar em celulose. Tudo em caminhões, que depois também levam a celulose até o terminal ferroviário.
Somado a esse volume, estão os caminhões que escoam a produção das outras indústrias do município e os que passam por Três Lagoas levando produtos de São Paulo para os Estados do Centro-Oeste e Norte do País.
O grande movimento de caminhões começa a trazer problemas para a região. O principal está com solução a caminho: prefeitura, governo do Estado e DNIT acabaram de assinar uma ordem de serviço para a construção de uma ponte sobre o Rio Paraná, ligando Três Lagoas a Castilho (SP), para eliminar o intenso movimento de veículos verificado hoje sobre a barragem de Jupiá.
A própria cidade tem uma frota relativamente grande para o seu tamanho: 1.435 caminhões, 245 caminhões tratores, 974 reboques e 327 semirreboques. O diretor do Departamento Municipal de Trânsito e Sistemas Viários, Milton Gomes Silveira, está preocupado com o crescimento do fluxo de caminhões.
A BR-262, que passa pela cidade, é duplicada no trecho. “Por enquanto ainda está suportando, porém, com o aumento do tráfego, poderemos ter congestionamentos e mais acidentes”, comenta Silveira, observando que esta rodovia é a única via de entrada para o Mato Grosso do Sul na região.
Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, Três Lagoas já está procurando uma solução. O município tem estudos para elaboração de um projeto de um anel viário que será encaminhado para os ministérios das Cidades e dos Transportes para captação de recursos. O projeto prevê a interligação da BR-262 (Três Lagoas-Campo Grande) com a BR-158 (no trecho que liga Três Lagoas a Selvíria). Com essa obra, o fluxo de caminhões na cidade diminuiria sensivelmente.
É um assunto que também depende do DNIT. O que o DNIT diz que está certo é uma licitação para a implantação de acostamentos e a construção de 30 km de terceira faixa no trecho entre Três Lagoas e Campo Grande.