Esperar. Esta é a palavra que passa mais tempo na mente dos caminhoneiros na rota da safra, percorrida pela reportagem da Carga Pesada a bordo de dois Actros 2651. Um da Transoeste e outro da Lontano. Culpa da burocracia e da precária estrutura para carga e descarga. Os vídeos da viagem podem ser vistos na página da revista no Facebook e Youtube
Ralfo Furtado e Dilene Antonucci
A Revista Carga Pesada e a Mercedes-Benz realizaram no início de março mais uma etapa do projeto AS ESTRADAS FALAM, A MERCEDES-BENZ OUVE E A REVISTA CARGA PESADA PUBLICA, agora na Rota da Safra 2017. Acompanhamos a movimentação da soja pelas principais rodovias do Mato Grosso a bordo de dois Actros 2651 das empresas Transoeste e Lontano, na rota Sinop/Rondonópolis.
Vendo de perto a rotina dos motoristas, pudemos mais uma vez constatar o que já noticiamos muitas vezes em nossas reportagens sobre a movimentação da safra: a espera e a burocracia comprometem muito a eficiência do transporte de grãos. O leitor pode encontrar vídeos de todas as etapas da viagem, das condições das estradas e da carga e descarga, e as opiniões dos motoristas, tanto no canal da Revista Carga Pesada no Facebook quanto no Youtube.
Acompanhamos o carregamento em Sinop de um rodotrem de nove eixos e 25 metros da Lontano Transportes desde a segunda-feira de manhã, dia 6 de março, quando iniciamos nossa viagem. Foi um dia inteiro de espera. Poucos pontos de carga e descarga de granéis estão equipados com balanças e tombadores adaptados para este tipo de implemento mais longo.
Com a demora no carregamento e como essa composição não pode rodar à noite, só no dia seguinte o motorista Éder Rosa de Almeida pôde… perder mais um dia esperando a liberação da nota fiscal! Ele dependia desse documento para descobrir que sua descarga na ALL de Rondonópolis estava programada para quinta-feira, dia 9. Ou seja: ele teria a quarta-feira para chegar ao pátio da Lontano em Rondonópolis e aguardar o horário para entrar no terminal da ALL: “Até que desta vez foi tudo bem rápido. Já cheguei a ficar três dias esperando na fila só para carregar”, informou.
Enquanto Éder aguardava a documentação, na terça-feira embarcamos em Sorriso num tritrem de nove eixos da Transoeste dirigido pelo gaúcho Arlindo Tartarotti, que também estava a caminho da ALL em Rondonópolis. Viajamos com ele até Cuiabá e pudemos viver os perigos da BR-163, que é pedagiada mas está cheia de buracos, tem pista simples e não tem acostamento. De Sorriso a Rondonópolis, um trecho de pouco mais de 600 quilômetros, Arlindo deixou R$ 351,90 nas oito praças da concessionária Rota do Oeste (veja gráfico à esquerda): “Caminhoneiro sofre e paga caro para sofrer”, comentou, enquanto desviava dos buracos da principal rodovia do Mato Grosso. Ele mora no caminhão, literalmente. Depois que se separou da mulher, achou que não compensava mais manter um apartamento alugado: “Tudo que tenho está aqui dentro do caminhão”.
A jornada do Arlindo até a descarga no terminal da ALL terminou mais cedo, quarta à noite. Já o Éder só conseguiu mesmo descarregar na quinta-feira. Os dois, que já dirigiram caminhões de outras marcas, aprovaram a performance e o conforto da cabine do novo Actros, agora mais preparado para enfrentar as difíceis condições da rota da safra. Sem redução nos cubos, o modelo top de linha da Mercedes-Benz ganhou suspensão metálica para suportar as severas condições do tráfego tanto em asfalto quanto em estradas de terra e tanques de 1.080 litros para maior autonomia.
Ao final da viagem, o rodotrem do Éder registrava no computador de bordo uma média de 2,1 quilômetros por litro, considerando tanto o trecho em que rodou vazio quanto tracionando as 74 toneladas de PBTC. O tritrem do Arlindo, depois de rodar 1.548 quilômetros, registrou a média de 1,98 quilômetro por litro.
RECORDE – A última projeção feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que o País colherá uma safra recorde de 219,14 milhões de toneladas de grãos. Milho e soja representam 90% deste total. Em relação à safra anterior, o crescimento é de 17,4%. Serão 32,5 milhões de toneladas a mais.
O Centro-Oeste, de acordo com a Conab, concentra 43,1% da produção, seguido pelo Sul, com 35,2%. Sudeste, Nordeste e Norte participam com 10%, 7,6% e 3,9%, respectivamente.