Estudo da NTC&Logística sobre o impacto da crise no transporte rodoviário de cargas indica queda na tonelagem transportada, no consumo de diesel e no movimento dos caminhões nos pedágios.
Mas também traz recomendações para as empresas
Dilene Antonucci
As empresas de transporte com operações ligadas aos segmentos de cargas completas, indústria automobilística, motocicletas, exportações, contêineres, Mercosul, cosméticos, calçados e aos eletroeletrônicos foram as primeiras a ser atingidas pela crise econômica que varre o mundo desde agosto do ano passado, segundo estudo produzido pela NTC&Logística.
Na movimentação de grãos, dados da Conab indicam que a produção deverá sofrer redução superior a 6% em relação ao ano passado. A queda de quase nove milhões de toneladas significa, pelos cálculos da NTC, cerca de 360 mil viagens a menos, considerando-se que cada carreta leve 25 toneladas.
Entretanto, pela mesma análise, setores como o de logística podem ganhar com a crise, pois a tendência das indústrias será terceirizar operações para reduzir custos de estrutura. As grandes empresas de carga fracionada, embora tenham reduzido suas previsões de mercado, vão continuar crescendo em 2009. Da mesma forma, as empresas que mantêm parcerias e contratos de longo prazo com o cliente também estão sofrendo menos.
Nessa linha, a entidade recomenda medidas que podem ajudar empresas e transportadores a atravessar e inclusive se fortalecer neste período de turbulência. Aumento de produtividade e redução de custos são os principais alvos.
Rodar mais com o mesmo caminhão (hot seat ou banco quente), em operações dedicadas; reduzir tempos de carga e descarga; usar veículos mais adequados e de maior capacidade; evitar retornos vazios e estabelecer parcerias e pools de carga são algumas das medidas para aumento da produtividade recomendadas pela NTC.
Para controlar custos, a entidade recomenda acompanhamento constante e detalhado especialmente do consumo de combustível, pneus e das despesas com manutenção, eliminação do desperdício e aperfeiçoamento contínuo do trabalho.
Outra preocupação deve ser o fluxo de caixa: o transportador deve procurar sempre alongar prazos das contas a pagar e encurtar os prazos de recebimento. Empresas endividadas terão mais dificuldade para sobreviver.
Os investimentos precisam ser reprogramados para evitar gastos pouco rentáveis e o endividamento. É essencial não reduzir fretes e, se possível, baixar os descontos. E principalmente: abrir mão de clientes que não proporcionem rentabilidade justa.
Na opinião de Neuto Gonçalves dos Reis, chefe do Departamento de Custos Operacionais e Estudos Técnicos e Econômicos da NTC&Logística e principal responsável pelo estudo, “se a crise gera dificuldades, também desencadeia mudanças, oportunidades e inovações. Sobreviverão os mais preparados e mais criativos. E quem sobreviver poderá inclusive sair da crise melhor do que entrou”.
Cresce a importância do terceiro
Cresce a importância do terceiro
Um processo de reestruturação ao longo do ano passado deixou a Transportadora Americana preparada para este momento de crise. Basicamente, a empresa focou sua atuação em clientes que proporcionem rentabilidade real e aumentou a participação de terceiros, sobretudo nas operações de distribuição.
“Frota própria é custo fixo, o terceiro é custo variável”, resume Celso Luchiari, diretor da empresa. Para ele, é preciso balancear o uso de frota própria e da frota de terceiros de acordo com a demanda de trabalho. Na TA, 50% das cargas de transferência são transportadas pela frota própria da empresa e 50% por terceiros. Na distribuição, a participação dos terceiros saltou para 70% desde a reestruturação.
Outra preocupação tem sido o monitoramento constante das variáveis da operação de cada cliente. Luchiari explica: se a carga tem que ser entregue no centro expandido de São Paulo, o custo aumenta e alguém tem que pagar. “Se você não monitorar isso constantemente, num setor dinâmico como é o nosso, vai tirar uma parte da sua margem para pagar esse serviço. Ou seja, uma remuneração que parecia justa pode deixar de ser”, explica.
Atendendo clientes dos setores farmacêutico, eletroeletrônico, têxtil e de cosméticos, o empresário está otimista: “Os nossos números mostram que fevereiro está sendo melhor que janeiro, e janeiro já foi melhor que janeiro do ano passado”.
Mas a situação poderia ser melhor ainda se a carga tributária do setor de transporte não fosse tão alta. “Nem falo em redução de tributos, mas a dilatação de prazos, como do ICMS aqui em São Paulo, já ajudaria e muito. O governo conseguiu ajudar com a redução de IPI a indústria automobilística. Acredito que o setor de transporte empregue mais gente que a indústria automobilística e merece mais atenção”, concluiu.