SETEMBRO DE 2010
Ela já viajou muito ao lado do marido, mas hoje fica em casa administrando a vida da família
Guto Rocha
Ela não sabe dirigir nem auto, como os gaúchos chamam carro de passeio, mas é peça fundamental na condução da vida do marido, o motorista de caminhão Eloi Miquelan. A dona de casa Meri Terezinha Possa Michelan, de 45 anos, de São Marcos (RS), está casada há 25 anos com Eloi… e com o caminhão. “Quando nos casamos, ele já era caminhoneiro. E na minha família, dos oito irmãos, sete são caminhoneiros”, diz ela.
A ligação com os brutos vai além do casamento e da família. Meri administra os negócios do marido e passa boa parte do tempo nas estradas. “Pago as contas, o INSS, a prestação do caminhão, compro pneus e algumas vezes mandei peças quando ele precisou”, comenta. O marido, um autônomo agregado, diz que ela ajuda bastante. “É ela que administra tudo”, conta.
Com dois filhos, uma moça de 23 e um rapaz de 16 anos, Meri afirma que logo após o casamento partiu com o marido pelas estradas do Brasil. “A Cintia foi criada na cabine do caminhão. Só paramos de viajar direto quando ela foi para a escola”, conta. O marido lembra que os dois chegaram a passar quatro meses sem voltar para casa. Para Meri, a viagem mais marcante foi quando passaram oito dias numa balsa, no rio Amazonas.
Mesmo com tanto contato com o caminhão, ela nunca quis aprender a dirigir. “Nunca tive curiosidade”, conta. O marido afirma que até tentou ensinar. “Mas ela nunca quis saber da direção.”
Meri afirma que, mesmo com todo esse tempo, não consegue ficar tranquila quando o marido está viajando. “Sempre que ele sai, a gente fica preocupada, com o coração na mão”, comenta. Ela conta que já perdeu um irmão caminhoneiro num acidente.
O filho mais novo, Alexandre, até agora não deu sinais de que vai pelo caminho do pai. “Ele já disse que não quer ser motorista”, conta Meri. Mas o rapaz já tem uma ligação com os caminhões: trabalha numa metalúrgica de São Marcos que fabrica espelhos retrovisores.