Caminhoneiros começaram a planejar a CooperSeven na greve de 2018
Durante a greve de maio de 2018, um grupo de caminhoneiros de Sete Lagoas (MG) decidiu buscar alternativa para sobreviver no mercado. Eles se juntaram para formar uma cooperativa. Levou tempo para o projeto sair do papel. Faz apenas um ano que a Cooperativa Brasileira Setelagoana de Transporte, a Cooperseven, foi formalizada e somente agora, em julho de 2022, começou a gerar receita.
São 20 caminhoneiros cooperados e 20 carretas que começam a fazer fretes em nome da empresa.
O carreteiro Fabricio Borba é o presidente da cooperativa e, apesar de todas as dificuldades vividas pelo setor, está bastante confiante no futuro do negócio. “Quase cinco anos depois, a gente começa a ver essa árvore dando flor. Ainda tem muito trabalho pela frente para colher os frutos desse projeto”, afirma ele em entrevista à Revista Carga Pesada.
Segundo o mineiro, até agora, os caminhoneiros investiram cerca de R$ 70 mil na iniciativa.
Borba ressalta que Sete Lagoas tem uma movimentação muito grande de mercadoria. “Temos uma rodovia federal muito importante para escoar vários tipos de cargas. Fazemos parte do quadrilátero ferrífero. Temos usinas siderúrgicas que movimentam muita liga metálica. Ainda há indústria de autopeças, fábrica de cerveja, fábrica de caminhões”, conta.
Apesar disso, a intenção do grupo não é se limitar as cargas da região. “Antes de ser setelagoana, a cooperativa é brasileira”, declara.
Borba conta que sua inspiração vem do contato estreito que mantém com a Scania. “Fui finalista várias vezes dos campeonatos de motoristas que a Scania fazia. Tenho vários amigos lá que acabaram me incentivando, me inspirando.”
Por enquanto, a Cooperseven tem um escritório alugado como sede. Mas a diretoria está negociando com o município a permuta de um terreno para, no futuro, construir o pátio da empresa.
PANDEMIA
O novo coronavírus atrasou bastante o projeto. “Nossa primeira reunião estava marcada para 28 de março de 2020. No dia 26, foi declarada a pandemia e não pudemos realizá-la. Na época foi muito triste. Mas hoje a gente não vê como tristeza, vê que valeu a pena esperar”, afirma ressaltando que o tempo foi importante para os caminhoneiros amadurecerem o projeto.
Todos os cooperados precisam passar por cursos oferecidos pela organização das cooperativas de Minas Gerais, a Ocemg, e pela própria assessoria jurídica contratada pela Cooperseven. “Nosso primeiro passo foi colocar na cabeça das pessoas como funciona o cooperativismo”, explica.
PRECONCEITO
A busca por fretes esbarrou e ainda esbarra no preconceito e no desconhecimento dos embarcadores sobre como contratar uma cooperativa. “Ainda estamos vencendo essas dificuldades.”
Borba se surpreendeu com propostas indecentes que vem recebendo de algumas empresas. “Passamos por experiências constrangedoras, onde a gente foi tentar vender nosso trabalho. Numa dessas visitas, tivemos um pedido de propina.”
De acordo com ele, o gestor de frota da empresa se comprometeu a contratar a cooperativa desde que recebesse um dinheirinho por fora. “Mas, no nosso caso, sem chance. A gente fica sem trabalho, mas não compactua com corrupção.”
Aos 43 anos de idade, sendo 23 deles na boleia, Borba diz “estar” presidente da empresa, mas é caminhoneiro por vocação. “Está no meu DNA. É por aptidão de levar o máximo de excelência dessa profissão, com profissionais cada vez mais capazes de entregar soluções e responsabilidade”, declara.
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