Maior exposição de caminhões do mundo revela a preocupação dos fabricantes na pesquisa de novas formas de energia para os veículos. Mesmo os motores a diesel estão melhores – e poluem menos
Dilene Antonucci
Cerca de 300 mil visitantes passaram pelo 62º Salão de Veículos Comerciais, o IAA, maior exposição do mundo de veículos de transporte de carga e passageiros, realizada de 25 de setembro a 2 de outubro em Hannover, na Alemanha. Matthias Wissmann, presidente da VDA, entidade dos fabricantes de veículos na Alemanha, disse no discurso de abertura que este foi o salão dos recordes, pois, como reflexo do bom momento vivido pela indústria, reuniu 2.084 expositores, número 1/3 superior ao da última feira, de 2006. Desse total, 1.188 eram expositores estrangeiros, de 84 países, sendo 133 da China, que triplicou sua participação.
No momento em que o Brasil discute se o diesel com menos enxofre, para motores Euro 4, vai mesmo ser produzido a partir de 2009, como prevê a legislação, o principal foco do salão foi a maior eficiência do transporte com redução de emissões e do consumo de diesel.
A Mercedes-Benz, que tradicionalmente ocupa o maior espaço da exposição, apresentou o ônibus Citaro, movido por célula de combustível com pequenos motores instalados nos cubos de rodas do veículo. A célula de combustível, conhecida há mais de 150 anos, surge como alternativa isenta de emissões e se baseia em uma combinação química entre os gases oxigênio (O2) e hidrogênio (H2) para gerar energia elétrica, energia térmica (calor) e água.
Mas o grande destaque, presente nos estandes da maioria das montadoras, foram os motores híbridos, apresentados como alternativa para o futuro da mobilidade. O princípio é simples: um motor elétrico tira o veículo da inércia. A partir de determinada velocidade, um motor de combustão interna, a diesel ou GNV (gás natural veicular), mantém o veículo em movimento. Além da redução do consumo de diesel, em média de 30%, e das emissões, a energia gerada a cada frenagem, sob a forma de calor, normalmente desperdiçada, é reutilizada para carregar as baterias do motor elétrico.
Essas novidades, no entanto, não representam a aposentadoria dos motores a diesel. Apesar dos vários modelos expostos, sobretudo de ônibus urbanos e veículos leves de distribuição, a limitação dos híbridos continua sendo o custo da tecnologia, em média 30% mais cara que a dos motores convencionais. Um caminhão Mercedes-Benz Atego de 12 toneladas, equipado com motor híbrido, custa cerca de 40 mil euros mais que o modelo com motor convencional. Um ônibus híbrido é muito mais caro: 300 a 400 mil euros a mais.
A Volvo garante que seu ônibus 7700 híbrido, também apresentado em Hannover, é comercialmente viável. Com um consumo de combustível até 30% mais baixo, os frotistas de ônibus podem recuperar seu investimento no custo adicional no período de cinco a sete anos, segundo levantamento da montadora.
Na visão de Hubertus Troska, diretor da Mercedes-Benz, em curto prazo a utilização destes veículos só seria possível em larga escala com a concessão de algum incentivo dos órgãos públicos aos transportadores. Além disso, a engenharia tem conseguido manter bons níveis de consumo e ainda atender as normas de emissões. Na Mercedes-Benz, os veículos com a tecnologia BlueTec, equivalente à Euro 5, consomem de 2% a 5% menos combustível que os motores Euro 3, emitindo, portanto, menos CO2. A emissão de particulados, segundo a montadora, é 80% menor, bem como a de óxido de nitrogênio, que foi reduzida em 60%.
ÁLCOOL E GÁS – A Iveco também apresentou veículos com motores híbridos, como um caminhão EuroCargo com propulsores paralelos, a diesel e elétrico, e um Daily Furgão com motor elétrico, totalmente isento de emissões.
O gás natural foi outra alternativa energética apresentada pela indústria no Salão de Hannover. Entre os modelos da Iveco, além de um Daily e um EuroCargo CNG, a montadora apresentou um Iveco Tector com motor de 200 cv e um Stralis com motor Cursor 8 de 272 cv. “Neste caso, dependemos de uma rede eficiente de distribuição”, ressalva Paolo Monferino, CEO da montadora italiana. Na cidade de Torino, sede da empresa, a movimentação de 500 ônibus com esta alternativa mais que justificou os investimentos em um sistema eficiente de distribuição do gás.
No Brasil, entretanto, a Mercedes-Benz lançou ônibus a gás em 1998 e viu suas vendas ficarem bem abaixo das expectativas. Segundo o presidente da empresa, Gero Hermann, só 800 veículos a gás foram vendidos nesses 10 anos.
Monferino, da Iveco, informou que tem planos de usar o álcool misturado ao diesel como alternativa para abastecimento de caminhões no Brasil, “sobretudo em operações dentro das usinas ou na distribuição urbana”.
ACTROS – A grande atração do estande da Mercedes-Benz foi mais uma vez o Actros, eleito Caminhão do Ano de 2009, em sua terceira versão, equipada com transmissão power shift de série com 12 velocidades. O modelo também chega adaptado para a construção civil e na versão caminhão-trator superpesado SLT, projetado para uma capacidade máxima de tração (CMT) de 250 toneladas.
Embora ainda não haja previsão para sua chegada ao Brasil, o Actros para aplicação rodoviária apresenta números que são motivo de comemoração para a montadora alemã. Em um campo de provas na cidade de Nardo, no Sul da Itália, um conjunto de 40 toneladas percorreu 13 mil km com um consumo médio de 19,44 litros a cada 100 km – ou seja, 5,14 km por litro de diesel – um recorde mundial com direito a registro no Guiness. Em algumas aplicações, o novo Actros tem apresentado intervalos de paradas para reparos de 600 mil quilômetros ou 48 meses.
TRAKKER – O presidente da Iveco Latin America, Marco Mazzu, confirmou, em Hannover, o lançamento no Brasil do novo Trakker, um caminhão pesado “off-road” (fora-de-estrada) usado pelo setor canavieiro, construção civil, mineração e extração de madeira.
O modelo será produzido na fábrica de Sete Lagoas, em Minas Gerais, o que significa que os clientes brasileiros poderão comprá-lo com financiamento do Finame. A versão atual é montada em Córdoba, na Argentina, operação que terá continuidade para atender ao mercado argentino e outros países da América do Sul.
Mazzu também informou que o Grupo Biaggi, segundo maior no setor sucro-alcooleiro no Brasil, é o mais novo concessionário da marca. O grupo terá concessões nas regiões de Araçatuba, Catanduva, Marília, Ourinhos, Presidente Prudente e São José do Rio Preto.
Volkswagen Caminhões: o Brasil em Hannover
Embora a empresa seja de origem alemã, a participação da Volkswagen no Salão de Veículos Comerciais em Hannover teve as cores e o sotaque do Brasil. E não foi por causa do caminhão de corrida verde e amarelo, campeão da Fórmula Truck, ou das caçambas da implementadora mineira Rossetti, expostos no estande, uma espécie de vitrina européia para o mundo, mas sim porque o Constellation, principal vedete da marca, produzido em Resende, às margens da Via Dutra, é considerado por Stephan Schaller, presidente da Volkswagen Veículos Comerciais, o embaixador da marca em países com maior potencial de crescimento.
Até o final de 2008, a Volkswagen planeja produzir 500 mil veículos comerciais no mundo. A meta é produzir 800 mil unidades por ano até 2018. Ainda segundo Schaller, além da Rússia e do Brasil, a China será alvo do próximo passo importante da montadora, lembrando que, neste caso, pela legislação do país, será necessário fazer uma parceria com um fabricante chinês.
Roberto Cortes, presidente da brasileira Volkswagen Caminhões e Ônibus, reafirmou em Hannover que o objetivo da empresa é estar entre as maiores do mundo. Alinhada com as preocupações ambientais, a montadora apresentou em Hannover um Constellation 19.320 certificado pela norma internacional ISO 14040. Ao emitir a certificação, o IQA – Instituto de Qualidade Automotiva – avaliou todo o ciclo de vida do veículo, começando pela obtenção das matérias-primas para sua fabricação.