A rejeição ao estradeiro é secular, mas diante da calamidade pública aparece quem vale o quê
LUCIANO ALVES PEREIRA
Escapo da reclusão da peste do Corona e, ao passar pela rodovia Fernando Dias, leio no pórtico de avisos da concessionária Arteris: “Caminhoneiro, o Brasil precisa de você”. Com alguma surpresa, aplaudi, embora todo mundo saiba disso e os ‘rodófobos’ não se conformam. Princialmente nas universidades. E já faz tempo.
Apenas para citar um caso, em 1974, o professor Murilo Nunes de Azevedo pregava com ardor a teses de que, “quanto mais caminhões rodam pelas nossas estradas, mais prejuízo tem o país – publicado no Jornal Veículo (descontinuado), edição de fevereiro/1974. Ele lecionava Ferrovias e Sistemas de Transportes na Universidade Federal do RJ e foi autor de vários livros pertinentes.
Conforme acrescentou na época, o modal rodo, na primeira metade da década de 1970, participava do bolo de cargas com 72% e, o ferroviário, com 14%. Daí, a mal querência pode ter fundo ideológico porque os governos militares fizeram milhares de quilômetros de rodovias pavimentadas. Tanto que transformaram o mineiro da cidade de Oliveira, Eliseu Resende, em campeão nacional da construção de estradas. Seja como diretor-geral do extinto DNER ou ministro dos Transportes.
Há quem busque mais fundo. A repulsa pelo rodo teria raízes na corte portuguesa, nos tempos de D. João V, antecessor de D. João VI – este o que se transferiu pra o Brasil em 1808. Bem antes, em 1711, quando Villa Rica vertia ouro por todos os barrancos, o rei ordenava: “Quanto aos caminhos, lhe parece que será conveniente proibi-los todos, exceto os que s. majestade tenha concedido por mercê particular a alguns povos do Brasil, porque quanto mais caminhos houver, mais descaminhos haverá, não só dos quintos, mas do mesmo ouro”; revista Rodovia, janeiro de 1951.
Ao contrário daqui, na Alemanha, Jens Thiermann, membro do board da entidade chamada Transport Ambassadors, disse à imprensa local que a logística alemã, da qual o transporte rodoviário é parte indivisível, representa a terceira potência econômica daquele país. E foi além. Acentuou que a força transportista local forma a espinha dorsal da economia. Aqui não é diferente. Basta conferir a importância do TRC nas cargas nacionais.
No mais, é admitir o fato e voltar os olhos para o setor com menos homenagens, mais entendimento como funciona o caminhonismo e, principalmente, atendimento aos pleitos básicos dos seus operadores. Entre vários outros, a ampliação da rede de telefonia para celulares, PPDs (Pátios de Parada e Descanso), exigências de conforto mínimo nos locais de carga e descarga. E por aí vai…