É assim que importadores veem a resolução baixada pelo governo que inviabiliza a importação de pneus chineses, a pedido dos fabricantes nacionais
Chico Amaro
Se o transportador de carga deseja comprar este ou aquele pneu, com base na experiência dele, ou por causa do preço ou do prazo, ou só para conhecer, ou por outro motivo, não importa: o que é preciso assegurar, dentro de um regime econômico de livre iniciativa, é que ele tenha o máximo de escolhas possíveis, porque é isso que vai lhe permitir fazer a melhor compra.
Na opinião de importadores de pneus chineses, essa liberdade ficou em risco no Brasil com a decisão tomada pela Câmara de Comércio Exterior do Governo – Camex – em dezembro, de sobretaxar a importação dos pneus chineses, inviabilizando o negócio.
A decisão baseou-se numa acusação da ANIP – Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos – de que os preços dos pneus vendidos pela China caracterizam “dumping”, ou seja, são propositalmente baixos, com o intuito de prejudicar a indústria nacional. Em junho, a Camex voltará a se pronunciar, para revogar ou tornar definitiva a decisão.
Os importadores discordam totalmente da acusação de “dumping”. E vão levar os seus argumentos ao governo, através da ABIPA – Associação Brasileira dos Importadores de Produtos Automotivos, que acabaram de fundar.
Para o presidente da ABIPA, Rinaldo Siqueira Campos, da empresa Siqueira Campos, de Brasília, a decisão da Camex é de um protecionismo inaceitável. “Os cinco fabricantes de pneus do Brasil não são empresas brasileiras e sim multinacionais. Mas o governo escolheu impedir que os importadores continuem na sua atividade e possam crescer para, quem sabe, no futuro, se tornarem produtores de pneus genuinamente nacionais.”
Segundo Campos, só porque os pneus chineses são mais baratos não se pode dizer que exista dumping. “Tanto que a produção de pneus no Brasil continua crescendo ano a ano. O Brasil exporta 22% dos pneus que produz, e importa apenas 12% dos que utiliza. O lucro líquido anunciado pelas fábricas nacionais foi de 20% em 2008 – o maior desde 2004.”
O mais grave, segundo o presidente da ABIPA, é que os importadores estão impedidos de trabalhar, mas o contrabando de pneus de carga continua: “É uma ironia. Muitos pneus importados por Bolívia e Paraguai, que deveriam apenas passar pelo Brasil, ficam aqui. Pneus japoneses Dunlop, bem mais caros que os brasileiros, podem ser encontrados por menos no mercado. Mesmo pneus chineses, cujo preço ficou proibitivo para a importação legal, estão à venda por menos. Essa, sim, é uma situação que merece a atenção do governo”.
Os importadores vão pedir apoio ao governo chinês no seu embate. “A China foi o único país com o qual o comércio do Brasil cresceu desde que começou a crise financeira internacional. Cresceu 22% nesse período, e diminuiu com todos os outros países. É mais um argumento a nosso favor”, completou o presidente.