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Conectividade esbarra em falta de sinal de celular

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Montadora estima que cobertura atinja apenas 10% dos trechos rodoviários do País

NELSON BORTOLIN

Nos últimos anos, a tecnologia embarcada nos caminhões brasileiros evoluiu como nunca. Ferramentas de conectividade permitem interação on-line entre motoristas, bases de apoio das empresas, rede concessionária, etc. Mas as inovações esbarram num velho problema bem conhecido dos caminhoneiros: a falta de sinal de telefonia móvel nas rodovias.

E não só nas regiões menos urbanizadas. Nos mapas publicados nos sites das próprias operadoras é possível ver a quantidade de áreas descobertas em todo o País.

Levantamento da Anatel mostra que a Vivo é a operadora mais presente nas cidades brasileiras. E há muitos locais onde a tecnologia é ainda a antiga 2G.

O caminhoneiro mineiro Zé Cueca diz que o local com mais dificuldade para se obter sinal é a BR-116 entre Feira de Santana e Fortaleza. “Passamos até horas sem sinal. No sertão e extremo sertão, a precariedade é muito grande. No Norte de Minas Gerais, a situação é a mesma. São tantos pontos sem sinal que fica até difícil numerar”, afirma. Outro trecho sem sinal citado por ele é na BR-158 perto de Barra do Garças (MT).

“A cada 10 km que o caminhoneiro roda nas áreas rurais e remotas do Brasil, ele tem cobertura de sinal de celular em apenas um quilômetro”, afirma Gregory Riordan, diretor de Tecnologias Digitais da CNH Industrial para a América do Sul. “Um dos nossos maiores desafios é fazer com que a tecnologia represente melhora na eficiência para nossos clientes”, complementa.

Com a falta de sinal de celular, a montadora, que detém a marca de caminhões Iveco, é obrigada a desenvolver alternativas. “Criamos mecanismos dentro das cabines. São dispositivos, como alarmes, que passam informações para os condutores sem que os equipamentos estejam conectados”, conta.
Em vez de mandar informações pelo sistema celular, os próprios equipamentos as interpretam. “O condutor consegue tomar decisões mesmo sem o celular. Mas é claro que, com o veículo conectado, a gente potencializa em muito o uso de informações a distância”, diz Riordan.

Renato Coutinho, especialista em Conectividade da CNH Industrial, ressalta que, sem sinal de celular, fica comprometido, por exemplo, o envio de códigos de falhas dos equipamentos para as centrais de monitoramento. Outros mecanismos como pilotos automáticos perdem sua função. “Temos máquinas que atuam em rotas preestabelecidas, mas que precisam de correções que são enviadas por GPS.” Sem sinal, essas correções não são feitas.

GARGALO

Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (Setcesp), Tayguara Helou, a falta de sinal nas estradas é um “gargalo” que dificulta a implementação de novas tecnologias. E também impede a utilização de inovações já existentes. “Por exemplo, temos de imprimir os documentos auxiliares da nota fiscal eletrônica e do conhecimento de transporte. São documentos digitais, mas como há postos de fiscalização nas estradas que não têm sinal de celular, o motorista tem de levar cópias físicas.”

Atuando no transporte de peças automotivas, a Cargolift, de Curitiba, reclama dos custos trazidos pela falta de sinal de celular nas estradas. “As seguradoras exigem cobertura de sinal de 100% do trecho”, conta o gerente corporativo de Transporte da empresa, Marcos Rosa. A transportadora é obrigada a manter rastreadores híbridos em todos os seus equipamentos, cerca de 650. “Quando não tem sinal de celular, entra o do satélite que custa três vezes mais”, alega.

RURAL

Lançado na Agrishow do ano passado, o ConectarAgro já levou conectividade banda larga 4G da TIM para 5,1 milhões de hectares de áreas rurais em 2019, o que acaba gerando sinal também para as rodovias no entorno dessas áreas.

Segundo Niumar Aurélio, supervisor de marketing de tecnologia da AGCO América do Sul, outra integrante do projeto, a meta é chegar a 60 milhões de hectares. “O campo e as estradas se utilizam da sobra que vem da cidade. Precisamos mudar isso”, afirma.

O supervisor explica que o ConectarAgro é financiado nos moldes da eletrificação da zona rural de décadas atrás. “Há um modelo de coparticipação já que, no meio rural, há menos usuários, o que faz o serviço de telecomunicações ter um retorno mais demorado”, afirma.

Quem comercializa o serviço é a TIM. “Nós, os demais parceiros, garantimos que a nossa tecnologia seja compatível com o 4G de 700 mega-hertz”, explica.

Leilão do 5G deve incluir estradas

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prepara o leilão da tecnologia de quinta geração (5G) no Brasil. Para isso, foi aberta uma audiência pública para coletar sugestões da sociedade, que terminou dia 2 de abril.

Mas já se sabe que uma das contrapartidas que serão exigidas das vencedoras da licitação é levar telefonia celular para as rodovias federais.

No Senado, há um projeto de lei, número 5 de 2017, que obriga as empresas que disputarem leilões de telefonia celular atenderem todas as rodovias (estaduais e federais) da área de abrangência desses leilões.

O projeto permite que os “investimentos que não possam ser recuperados com a exploração eficiente do serviço deverão ser, necessariamente, cobertos com recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust)”.

De acordo com a justificativa do projeto, o fundo foi criado justamente para universalizar os serviços e possui quase R$ 20 bilhões “ociosos em caixa”.

Um consultor na área de telecomunicações, que preferiu não ser identificado na reportagem, disse à Revista Carga Pesada que não existe esse dinheiro. “Na verdade, esse é um valor contábil. O Brasil vive em déficit fiscal e o dinheiro na verdade não está em caixa.”

Dotar as estradas com telefonia móvel também é um dos sete projetos do Plano Estrutural de Redes de Telecomunicações (Pert), que pode ser baixado clicando aqui.

A TIM foi a única operadora que se manifestou à Revista Carga Pesada sobre a reportagem. Clique aqui e confira o que disse a empresa.

 

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