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Pedro Trucão: A voz dos estradeiros

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Pedro Trucão é um cara popular: onde quer que vá, é logo reconhecido pelos estradeiros como um jornalista que valoriza e difunde o respeito à profissão

Nelson Bortolin

Pedro da Silva Lopes, o Pedro Trucão, lembra bem de quando começou sua paixão por caminhões. Ele tinha 8 anos e morava em Osasco (SP), no início da década de 1960. Estrada recém-asfaltada, ia passando um comboio em frente à casa dele quando um caminhão quebrou. Todos pararam, o menino foi ver e se encantou por um Mercedes-Benz LP-321 novinho em folha. “O motorista me deixou entrar na cabine. Achei lindo”, conta.

Nascido na mesma Osasco onde mora até hoje, Pedro cresceu, se formou em publicidade, jornalismo e marketing e virou o Trucão, que roda o Brasil inteiro mostrando a realidade do caminhoneiro e do transporte rodoviário de carga pelo rádio e pela televisão.

Pedro Trucão, com a filha Paula, os cinegrafistas Claudionor Cruz (o Paquinha, à esq.) e Edson Dantas, gravando uma reportagem: ‘‘O motorista tem que se atualizar”

Casado há 30 anos com Marlene Casarini, que trabalha com ele, o jornalista mantém hoje dois programas: o Globo Estrada, na Rádio Globo, e o Pé na Estrada, na Rede TV e na TV Aparecida. “Meu trabalho é mostrar a importância do motorista e do transportador para a economia e para o País”, ressalta.

Pedro Trucão dorme pouco: seu primeiro programa na rádio começa às cinco da matina, depois vai para a televisão e volta para a rádio, para o programa da tarde. Não dorme mais que cinco horas por dia.

Pai de Paula e Marina, ele tem, no trabalho, a ajuda da primeira, que passou a integrar sua equipe. Seu primeiro programa de rádio surgiu em 1981, com o nome Trucão e os Caminhoneiros do Brasil.

Era transmitido pela Rádio Difusora Oeste e depois pela 105 FM, de Jundiaí (SP). Na TV, começou 10 anos depois, na Record, com o Roda Brasil.

Em 30 anos de estrada, Trucão ganhou o carinho dos caminhoneiros. “Em qualquer lugar me reconhecem. Às vezes, só pela voz. Estou de costas para alguém e a pessoa vem perguntar: ‘Você não é o Trucão?’”

O saldo de 30 anos de mudanças na estrada

Trucão diz que muita coisa mudou no transporte de cargas desde os anos 80, não só na tecnologia. “Os caminhões tinham 14 metros, hoje chegam a 30”, ressalta. A qualidade das vias, pelo menos as pedagiadas, melhorou bastante.

O que não mudou tanto quanto ele gostaria foi o comportamento do motorista. “Ainda existe uma cultura adquirida lá atrás. O motorista pilota um caminhão muito mais moderno, mas continua trabalhando sem camisa, de shorts”, ressalta.

Ele diz que o caminhoneiro precisa se capacitar, mas critica o Sest/Senat. “Virou um cabide de emprego”, define. Para Trucão, a instituição tem pouco interesse em adequar seus cursos aos horários dos caminhoneiros. “É o Sest/Senat que tem de se adaptar e não o contrário”, defende.

Com tanta experiência na estrada, o jornalista também vê com reserva as entidades representativas dos motoristas. “Desde que eu comecei, há 30 anos, já brigavam entre si. Disputam para mostrar quem é o pai da criança (de alguns benefícios da categoria). Estão muito preocupados com os dividendos políticos”, ressalta.

Para Trucão, o projeto de lei que limita o tempo de direção é muito importante. “Tem transportadora que não quer. Algumas reclamam para mim. Mas eu acho fundamental.” Quanto ao fim da carta-frete, ele acha inevitável. “Reclamam aqueles que querem ficar na informalidade.”

Após trocar ideias com motoristas e donos de postos de combustível, o jornalista resolveu enviar aos deputados e senadores uma proposta para a construção de pontos de apoio nas estradas do País.

Por iniciativa do deputado Onofre Santo Agostini (DEM/SC), o texto virou projeto de lei, número 785/2011, que obriga a instalação de pontos de apoio a cada 70 ou 100 quilômetros nas rodovias, inclusive das concessionadas. “Tenho visto muitos acidentes. Quando paro e pergunto ao motorista se dormiu no volante, ele geralmente admite e diz que não parou porque não há local apropriado”, justifica.

Pelo mundo

Pedro Trucão também conhece a realidade dos caminhoneiros em países da Europa e nos Estados Unidos. “Eles têm condições de trabalho e remuneração bem superiores às nossas”, comenta.

Na China, onde esteve no ano passado, a impressão é de que a situação dos motoristas é a mesma do Brasil. “Ganham o equivalente a R$ 1.500. E, apesar de as autoridades negarem, dá para perceber que a carga horária é puxada”, afirma.

Mas a infraestrutura rodoviária chinesa surpreendeu Pedro Trucão. “Coisa de primeiro mundo. Estradas melhores até que as americanas e europeias. E o transporte de carga é muito organizado”, ressalta.

VOCÊ É O REPÓRTER

A Carga Pesada convidou os leitores a participarem da entrevista com o jornalista Pedro Trucão, enviando perguntas através do nosso site (www.cargapesada.com.br). Aqui estão as respostas dadas por ele, por e-mail, a cinco perguntas:

Michel Lopes Rubeiz, Santa Rita de Caldas (MG): O que você acha de termos mais trens circulando e o transporte rodoviário ser apenas regional, num raio de mais ou menos 200 quilômetros?

O transporte por trens é mais econômico, porém é mais demorado. Quando se trata de cargas de muito volume e baixo valor agregado, como grãos e minérios, é melhor a utilização do trem. Mas, em todos os países em que já rodei, sempre encontrei o caminhão como o principal meio de transporte, incluindo o apoio e alimentando todos os outros modais. Agora, para o profissional do volante, pode significar uma perda de importância na matriz do transporte. Por outro lado, facilita o disciplinamento da profissão. Tudo tem prós e contras.

Angelo Treviso, São Paulo (SP): Vejo o senhor dirigir vários brutos. Qual caminhão marcou a sua história? E qual seria a sua viagem dos sonhos na boleia deste caminhão?

O caminhão que mais me marcou foi aquele que me fez partir para a estrada como comunicador. Eu tinha 8 anos quando tive a oportunidade de entrar num Mercedes-Benz LP-321, ano 61 ou 62, gaiola boiadeira. A viagem que gostaria de fazer seria daqui até os Estados Unidos, conhecendo a diversidade de estradas, culturas, flora e fauna e podendo registrar o dia a dia dos estradeiros. É uma riqueza sem igual.

Demóstenes Pereira Lima, Teixeira de Freitas (BA): Eu gostaria de saber se você tem medo ou se já sentiu frio na barriga na hora de fazer uma entrevista.

Medo nunca senti, mas já passei por alguns apertos. Uma vez, rodando pela Castelo Branco, vi um estradeiro no acostamento, em um local conhecido pelos assaltos. Parei para entrevistá-lo e fui recebido com um 38! O cara achou que eu é que ia assaltá-lo. Confundiu meu gravador com uma arma. Frio na barriga senti quando recebi uma homenagem em Brasília, do Ministério do Transportes, a Comenda Mauá. Foi emocionante. O então presidente Fernando Henrique Cardoso esteve presente.

Ray Santana, Marilândia (ES): O que você pensa sobre o rebite, do qual o caminhoneiro tem de fazer uso para ficar acordado a noite toda, já que os prazos para entrega da carga estão cada vez mais curtos?

Acho um absurdo um profissional ter que partir para isso. Culpo quem vende e quem compra, isto é, o embarcador e o comprador da carga. Eles são os verdadeiros assassinos das estradas, porque impõem cargas horárias absurdas para a turma do trecho. Agora, o profissional que topa tem a sua parcela de responsabilidade. É uma questão de escolha.

Bruno Perez Gimenez, Itinga do Maranhão (MA): Moro às margens da Belém-Brasília e já tive a satisfação de vê-lo trabalhando aqui na porta da minha casa. Gostaria de saber qual é o seu “combustível” para trabalhar por aqueles que transportam este país nas costas?

Eu também me lembro de você, Bruno, e da reportagem que fiz naquela ocasião. O “combustível” que me move é a admiração pelo profissional da estrada e a vontade de mostrar o Brasil na visão do estradeiro, suas dificuldades e seu dia a dia. Fazendo isso, não tem como não me envolver em seus problemas e me sentir um porta-voz de suas reivindicações e sugestões. Gosto muito do que faço e tenho um profundo respeito pelos parceiros do volante.

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