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Finame e Procaminhoneiro ficam mais baratos

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E não é só isso. Também aumentaram o prazo de pagamento e a idade dos caminhões que podem ser pagos com o Procaminhoneiro. Resultado: as vendas de caminhões cresceram.
O almejado Fundo Garantidor começa a funcionar em setembro

Nelson Bortolin

Quando ouviu falar das novas regras do Procaminhoneiro, o autônomo Nelson Matter, morador de São Paulo, ficou curioso, mas não imaginou que, semanas depois, ia acabar trocando seu caminhão 96 por um novinho em folha. “Foi rápido e bem mais vantajoso que eu imaginava”, atesta. Nelson é um dos clientes que estão fazendo a alegria das concessionárias em todo o País. Também pudera: os juros do Procaminhoneiro, que é dirigido a autônomos e a empresas que faturam até R$ 1,2 milhão por ano, caíram de 13,5% para 4,5% ao ano, enquanto os do Finame, voltado para empresas maiores, foi de 10,25% para 7%. Nos dois casos, os recursos são do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDES. Dinheiro público, portanto.

O prazo de pagamento do Procaminhoneiro subiu de 84 para 96 meses e esse programa agora financia caminhões com até 15 anos de uso – antes, o limite era de oito anos. O governo ainda criou o Fundo de Garantia de Investimento (FGI) para incentivar as vendas – o FGI, a ser implantado em setembro, cobrirá parte dos riscos dos bancos repassadores dos empréstimos, em casos de inadimplência.

Esse conjunto de regras passou a valer no dia 27 de julho passado. O FGI tem caráter permanente, mas as outras medidas têm prazo fixado até 31 de dezembro deste ano, podendo ser alteradas depois dessa data.
Nas revendas, o efeito foi imediato. “Estamos vivendo uma situação parecida com a do ano passado, antes de outubro, conseguindo até fazer uma carteira futura”, conta Ana Carolina Teixeira, assistente de vendas da Escandinávia, revenda Scania de São José do Rio Preto. Ela contabilizava sete aprovações de Procaminhoneiro em todas as filiais – Uberlândia, Araraquara e Ribeirão Preto. “Considerando que eram raríssimos os negócios de Procaminhoneiro (criado em 2006), está muito bom”, diz ela.

Na Baden, revenda Volkswagen em Cambé (PR), o diretor Fernando Prochet contabilizava, no dia 25 de agosto, “um faturamento 50% superior ao de julho”. “Todo o meu estoque e os caminhões que ainda vou receber este mês e alguns que espero para setembro já estão com propostas de financiamento em banco”, disse ele. A maioria das vendas é pelo Finame, mas Prochet também fechou um negócio pelo Procaminhoneiro e tinha três propostas em vias de serem aprovadas.

A Tropicam, Ford em Londrina (PR), espera “uma corrida” de compradores até o fim do ano. “Em 12 dias de agosto, batemos a meta de vendas do mês”, informou o gerente de vendas Gregório Miano. “Estamos fazendo pelo menos cinco cadastros por dia”, acrescentou, lembrando que, com a nova taxa de juros, é possível economizar até R$ 36 mil num financiamento de R$ 100 mil pelo Finame.

Esperam-se melhores números da indústria com o incentivo à compra de caminhões

De acordo com Antonio Carlos Sêncio Paes, diretor comercial da Rivesa, Volvo em Maringá (PR), esta é uma “oportunidade única” para a renovação da frota. “Inflação a 5%, Finame a 7% e Procaminhoneiro a 4,5% ao mesmo tempo é uma coisa inusitada”, comenta.

Entre os transportadores, Márcio de Assis, gerente geral da Transjaguara, de Uberlândia, está muito satisfeito: sua empresa vai dobrar a frota. Ela tem 51 caminhões e vai comprar mais 50 (Mercedes-Benz, Scania e Iveco). “Inicialmente, nossa ideia era comprar 30, mas com a queda dos juros resolvemos aumentar os investimentos.” Assis diz que irá economizar R$ 33 mil em cada conjunto – ou R$ 1,65 milhão no total. Segundo ele, a razão da ampliação da frota é o fechamento de novos contratos. A empresa transporta carga fracionada para todo o Sudeste e Nordeste do País.

Nelson já está na estrada com seu caminhão zero

A negociação que levou o autônomo Nelson Matter, de São Paulo, a trocar seu antigo Scania 113, ano 96, por um Iveco Stralis 380 6×2 novo durou 12 dias, em agosto. No mesmo dia em que retirou o bruto, 17, ele já saiu para a estrada. “Agora vamos correr para pagar”, disse. Mas ele considera as novas condições bem melhores que as do leasing do 113.

O autônomo Nelson Matter: agora, “correndo pra pagar”

Matter conta que o preço do Stralis é R$ 278 mil. Ele vendeu o 113 por R$ 130 mil e deu R$ 100 mil de entrada no novo, financiando R$ 178 mil. Após a carência de três meses, terá 70 meses para pagar, com juros de 0,37% ao mês, o que resultará numa soma de R$ 199 mil – R$ 21 mil a mais. A primeira prestação será de R$ 3.740 e a última de R$ 3.140.

“No outro caminhão eu pagava R$ 2.537, mais R$ 3 mil da carreta (já quitada). Dava quase R$ 5.500”, informa. Desembolsando ainda R$ 1.400 de seguro e mais R$ 283 do seguro contra terceiros, ele sai no lucro. “Acho que não vou ter dificuldade em pagar”, diz o caminhoneiro, que faz três a quatro viagens para o Rio de Janeiro por semana, levando iogurte da Vigor.

O vendedor que fez o negócio, Carlos Augusto Santana, da concessionária Vetelli, de São Bernardo do Campo, ressalta que a aprovação pelo banco “não foi difícil” porque, além de ser bom de cadastro, Nelson deu uma entrada gorda. “Isso facilita bastante.” Questionado se estão sendo propostos negócios no limite do prazo de 96 meses, ele diz que os bancos estão pedindo para “a gente trabalhar com 60 ou 72 meses”.

MICROEMPRESA – As novas regras também estimularam Sandro Rogério Pereira, dono de uma microempresa com dois caminhões em Tabapuã (SP), a adquirir um terceiro veículo. Ele acaba de comprar um Scania R 124 zero pelo Procaminhoneiro. Pereira diz que o caminhão custava R$ 310 mil. Deu 10% de entrada e financiou R$ 279 mil em 56 vezes, com seis meses de carência. O primeiro pagamento será de R$ 6.123 e o último de R$ 5.186. No total, vai pagar R$ 34 mil de juros.

“Não tinha intenção de comprar um novo caminhão agora. Mas, com a queda de juros, achei que valia a pena.” Sua empresa transporta pisos, revestimentos e adubos para Goiás e Tocantins.

Dificuldades de crédito continuam

Desde que foi criado, em maio de 2006, o Procaminhoneiro nunca decolou porque os juros eram considerados altos e os autônomos, principalmente, não tinham garantias reais a dar pelo financiamento. Agora, os juros baixaram para o nível da inflação e, para tentar resolver o segundo problema, o governo criou o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), que também poderá ser utilizado por pessoas jurídicas.

Enquanto o FGI não entra em vigor, as dificuldades para aprovação de crédito para caminhoneiros continuam. “Muita gente procura o Procaminhoneiro, mas a liberação é difícil”, diz Marcio Turra, vendedor da Mecasul, Mercedes-Benz em Caxias do Sul (RS). “Ainda não fechamos nenhum negócio.” Segundo ele, os bancos rejeitam os candidatos porque impõem muitas barreiras. “Eles têm frete, têm declaração de agregado, têm notas, mas não conseguem. É uma burocracia incrível. Criou-se muita expectativa com as novas regras, mas estamos frustrados.”

Embora já tenha aprovado um financiamento pelo Procaminhoneiro e conte com outros três para os próximos dias, o diretor da Baden, Fernando Prochet, concorda que é difícil a aprovação do cadastro. “A grande maioria é reprovada. Tem que ter ficha limpa, ter um patrimônio familiar, um terreninho… Evidentemente, a declaração de imposto de renda é muito importante.”

FALA O BANCO – Um funcionário do Banco Itaú de São José do Rio Preto (SP), Álvaro Matheus dos Santos Pinto, que cuida das operações com veículos pesados, diz que o mais importante na hora da avaliação do cadastro é a consulta que o banco faz junto aos clientes dos autônomos. “A gente procura confirmar as informações que ele nos dá, ver qual é a renda dele e outras coisas. Isso é mais importante que os documentos”, declara. “Se ele não for agregado a nenhuma empresa, já complica um pouco.”

Segundo Álvaro, o número de cadastros em análise em sua agência aumentou de 30% a 40% desde o anúncio das novas regras. Os documentos pedidos na hora do cadastro são CPF e RG, comprovante de residência, fotocópias dos documentos dos veículos que possui, declaração de imposto de renda, declaração de serviços prestados e RPAs.

FGI começa a funcionar em setembro

BNDES, montadoras e concessionárias acreditam que o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), ao lado dos juros baixos, irá viabilizar o Procaminhoneiro. Segundo o BNDES, a União aportou R$ 680 milhões neste fundo, sendo R$ 580 milhões do Tesouro e R$ 100 milhões do próprio banco. Espera-se que as operações sejam autorizadas a partir de setembro.

Adriano Merigli, da Volvo Financial Services: desta vez, o fundo garantidor terá dinheiro

“Não é como os fundos de antigamente, que nasciam sem dinheiro e, quando o banco tentava recuperar o prejuízo de uma inadimplência, encontrava o fundo insolvente. Agora, os agentes financeiros vão olhar com outros olhos a concessão de crédito ao autônomo”, garante o diretor-presidente da Volvo Financial Services Brasil, Adriano Merigli.

Para utilizar o FGI, o tomador do empréstimo terá de desembolsar 0,10% do total financiado, enquanto o agente financeiro participa com 0,50%. De acordo com o BNDES, o fundo irá ressarcir 80% dos eventuais prejuízos dos agentes financeiros. Merigli mostra o que isso significa: “Digamos que o valor financiado é R$ 100 mil. O caminhoneiro para de pagar e devolve o caminhão para o banco. O banco consegue vender por R$ 90 mil e o fundo vai cobrir R$ 8 mil do prejuízo. O banco só perde R$ 2 mil”.

O presidente da Associação Nacional dos Concessionários Iveco, Teodoro da Silva, também aposta no FGI. Segundo ele, a existência do fundo já despertou o interesse dos bancos nos caminhões novos e numa segunda etapa vai alavancar os usados. “Eles ficarão numa situação confortável para financiar o carreteiro, que é hoje o nosso objeto de desejo.”

APETITE – Para o chefe do Departamento de Operações de Crédito do BNDES, Marcelo Porteiro Cardoso, o FGI vai “aumentar o apetite” dos agentes financeiros em relação aos autônomos, mas a aprovação dos negócios continuará dependendo da avaliação de risco de crédito de cada cliente. “Não tem como fugir disso.”

Cardoso diz que, de acordo com resolução do Conselho Monetário Nacional, o fundo só vai servir a quem for classificado até o nível C de risco. Segundo ele, existe uma escala do Banco Central que vai de A a H. Mas qual seria o nível C? “Cada banco tem a sua metodologia, mas geralmente o cliente que não tem histórico de cheque sem fundo, por exemplo, tem classificação de risco até C com certa tranquilidade.”

Ele ressalta que os R$ 580 milhões depositados no FGI pelo Tesouro Nacional representam apenas parte dos R$ 4 bilhões autorizados em medida provisória pelo governo. Os recursos servem para o Procaminhoneiro e o Finame.

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